quarta-feira, 29 de maio de 2013

Segredos

Segredos íntimos se escondem na lista telefônica dos aparelhos celulares. Minha avó não tem celular; nem nunca teve. Ela nasceu em 1924 e o que de mais moderno fez parte da sua vida foi o cartão de débito do banco. Desistiu. Guarda o dinheiro numa carteira escondida tão bem no armário, que na maioria das vezes nem ela lembra que tem. Estipulou uma quantia: quatrocentos reais em notas de cinquenta, vinte e dez, para o caso de precisar dar um agrado  aos bisnetos. Minha avó certamente tem segredos, mas ela anda um pouco esquecida, tanto que os  esqueceu. Já os telefones, ela mantém anotados numa agendinha de mão tão velha quanto ela e que certamente revela bons segredos. Tem a Carmela do cerzido, a dona Carolina da quitanda, a Lurdinha do bolo de noiva e seu Armando, que ninguém sabe de onde é. Quando eu era mais nova, as vezes, minha avó dizia que eu andava com uma gente esquisita, mas hoje ela pensa que todo mundo é um pouco estranho e tudo bem, afinal, segundo ela, é por isso que eu tenho tanto freguês. Outro dia perguntou como eu lembrava de todos. Expliquei que anotava os nomes dos meus "fregueses" na agenda do celular, dos que estão e dos que estiveram. Como ela, eu usava um lembrete para diferenciá-los. Fazem parte de um grupo que denominei pelo nome do bairro em que fica meu consultório, a maioria eu nem sei o sobrenome, porque não importa.Alguns são identificados pelo bairro, nome e indicação. Outros pelo grau de parentesco existente, como o pai do fulano. Tem dado certo. Mal sabe minha avó que eu continuo andando com uma gente esquisita. Amigos. Um deles lembra dos seus fregueses de um jeito interessante. Hoje, entre um café e um biscoitinho seu telefone tocou cinco vezes. Em todas pediu licença para atender. Primeiro era o Ricardo Tep, depois o Juninho Bcp, o Álvaro Enfisema , Ana Maria DPOC e a Sara Sara, com essa última ficou especialmente feliz. Desejou sorte. Estranho. Bem estranho. 

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