Toda festa de paulista começa com pelo menos uma hora de
atraso. Se a época for dezembro adicione mais uma hora para reclamar do
trânsito. Se for sexta-feira com chuva considere alugar um filme no Now até a
chegada do primeiro convidado. Mas eles chegam: exausto, mal-humorados,
cheirando a escritório e transpirando a sobrecarga de ser uma figura imprescindível
no hostil ambiente de trabalho. Com o tempo a atmosfera se tornará agradável,
basta suportar a magnitude celeste do desfiladeiro de reclamações (hipérbole paulistana);
falarão mal do chefe (e sua ignorância gerencial para lidar com os problemas da
firma), do prefeito (coxinha aspirante a holandês nativo), do eterno e insolúvel
trânsito e do atual príncipe das trevas: Waze. De vilão a salvador em minutos (principalmente
se o seu caminho estiver nas imediações do Morumbi-Taboão-Jaguaré). Passado
todos os infortúnios (e já anestesiados por algumas cervejas artesanais)
estarão na calçada se desculpando pela necessidade intrínseca de apenas um
cigarro para relaxar, discutindo sobre dinheiro (do orçamento municipal aos
melhores investimentos para virar um bi-milionário antes dos 50). A essa altura
o som lounge já deu lugar a seleção playlist de algum descolado e Club des Belugas
estará entre o volume 80-90. Falarão das férias, dos destinos exóticos, do
último circuito percorrido (de tênis, bike ou camelo), do plano B e do que de
fato é valioso na vida (família, saúde, uma casinha na praia para receber os
amigos e uma boa previdência privada). Pena! Bem agora que a noite se tornou
uma delícia é hora de partir; amanhã precisam estar na empresa (ou que seja de
home office) antes das 7 para um call com a China.