quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Doçura de meninos


Tenho amigos, homens, de todas as idades. O mais novo está na casa dos seis e o mais velho dos oitenta. Alguns são apenas amigos, outros acumulam a função de parente, mas o que têm em comum é certo encantamento pela docilidade feminina.
Embora eu esteja um naco acima do peso, os doces não compõem meu pecado capital maior. Troco facilmente um bom-bocado por um caldinho de feijão ou um refresco de jasmim por uma cervejinha. 
Não gosto muito dos romances adocicados, nem de novela das seis. Prefiro cores vibrantes aos tons pastéis. Não falo tão baixo, por vezes apelo para um palavrão e, admite mos, doce não é um adjetivo que caiba no meu currículo.

Fato é que tenho escutado com certa freqüência um lamento saudosista, dos humanos do gênero masculino, a respeito da doçura.
Se você apertar um pouco, alguns são capazes de desenvolver o tema. Traduzem como delicadeza, meiguice, um tom de suavidade, certa brandura. Uma volta a mais na morsa confessam que o que falta é dependência. Nos tempos de hoje dificilmente você encontrará um moço barbado alardeando isso com todas as letras, não pega bem nem na novela. Mas falam; de outro jeito. Falam da bravura, da brutalidade, da praticidade, da rapidez com que resolvem tudo sozinhas. Já escutei queixas sobre o ritmo, sobre os hábitos, sobre as escolhas. Há quem elogie as performáticas, mas em geral não acreditam muito, portanto reclamam também dos modos de satisfação. Ah! Esses meninos! São bons admiradores, se encantam, mas falta, sempre falta!

Até aí, tudo bem, o bom velhinho gastou, há mais de cem anos, duas dezenas de livros falando sobre isso. Nascemos, e se tudo der certo o que nos resta é aprender a lidar com a falta. Penso que a regra fundamental para o caldo não desandar é encontrar pontos de apoio, subjetivos, para encarar uma relação.

Explico: parece que alguns se sentem fragilizados diante de tanta certeza. Como se dissessem: “Ela sabe com tanta clareza e segurança o que quer, que eu sou apenas mais um!”. Aponta para uma fragilidade em relação as suas qualidades enquanto objeto de amor.

Não pretendo generalizar, mas se o povo sente saudades só pode ser de algo já vivido. Eu, por exemplo, até admiro as roupas da Grécia antiga, mais fresquinhas e confortáveis que as de hoje, mas não posso sentir saudades de algo que eu não vivi! Talvez, esses bacuris foram amados além da conta, ou melhor, além do tempo. Tiveram figuras maternas (ou quem quer que tenha exercido a função) que se ocuparam demais dos seus bebês, antecipando a resposta ao pedido. Quando tenho oportunidade de conversar com casais grávidos digo que respeitem o tempo de apelo do bebê. Desde cedo ele tem que se fazer ouvir para que possa experimentar a recompensa da conquista. Peço, em nome dos bebês, que esperem um sinal, um choro, um desconforto, antes de qualquer mamadeira ou troca de fraldas.

Certamente, não estive presente nas primeiras vivências dos meus amigos homens, até porque alguns são muito mais velhos do que eu, mas escuto no discurso, nas entrelinhas, o desejo de reviver um tempo passado, em que alguém esteve lá com exclusividade.     
Queridos: confiança não é crime. Nem a sua nem a dos outros. Tenho um amigo que diz que a regra do bom casamento é: tamô junto, mas num tâmo misturado. Acho o máximo e sei que nem sempre é tão simples de aplicar. Ser o amor do outro é ser uma das coisas importantes, não a única. Se a moça, autoconfiante e independente está com você, certamente tem haver com você. Brinco com meu marido que a única razão de eu estar com ele é ele, porque de resto eu me viro bem.

Quer declaração mais doce do que essa?

 

      

 

  

 

 

 

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