Como já disse em outras
escrituras sinto um prazer celular em tomar café da manhã na rua. É um ato
repleto de benefícios: fico só por bons minutos, leio colunas do jornal
impresso que não estão disponíveis nos sites de notícias, aprecio de olhos
fechados cada mordida no pão fresquinho e não sinto a menor culpa, pois os
filhos estão na escola, o marido trabalhando e eu, sou a dona exclusiva e temporária
do meu tempo e do meu nariz!
Hoje, por exemplo, descobri fatos
fantásticos: que a Nina Horta odeia tomates, parece que é trauma de infância,
uma mistura de pão branco com maionese e que há pouco tentou superar a
dificuldade enfeitando saladas com os tomates cerejas. Soube também que o Hélio
Schwartsman faz uso de fitoterápicos e prefere-os aos homeopáticos, uma vez que
possuem princípios ativos reconhecidos pela ciência. O Marcelo Coelho tem o
hábito de arrancar as pelinhas ressecadas dos cantos dos dedos e tem inveja de
quem prefere estourar papel bolha. No
caderno especial, a novidade foi que a Rússia é o maior credor da Venezuela na
área de defesa e que o vice-presidente-canditado do falecido, além de se chamar
Maduro era motorista de ônibus, aliás, meus sentimentos ao povo venezuelano. Certamente nenhumas dessas notícias perdurarão mais do que o intervalo de uma manhã e é justamente essa razão do meu prazer. Tento arejar a massa encefálica com informações que exijam o mínimo rigor de absorção. A função é desarrumar para reorganizar, chamo isso de processo criativo. Café, palavras, tempo livre funciona como uma troca de ares cerebral!
Costumo repetir lugares a tempo de saberem meu pedido, mas um instante antes de puxarem um bate-papo. Por isso mantenho meu espírito desbravador ativo em busca de novos estabelecimentos.
O intervalo de tempo entre um
compromisso e outro era maior; de jornal em punho decidi por um boteco pé de
chinelo com pretensão a padaria de bairro periférico. Nada contra, mas eu curto
um lugar limpinho. De cara senti aquele cheirinho azedo de toucinho com alho e
cebola que, às sete da manhã, abala qualquer estômago vacilante. Diminui a inspiração
e segui em frente. Radiografei o local com meu olhar biônico escondido atrás dos
óculos de sol e rapidamente conclui que não encontraria o pão integral de sete grãos,
tampouco a café latte desnatado com o contorno do cisne estampado na espuminha.
Por teimosia decide perguntar, após a abordagem do atendente:
- Asioraqueoquê:
- Bom dia! Tem pão integral?
- Tenãosiora, só franceis.
- Tudo bem! Eu quero um pão na
chapa e uma média desnatada.
- Tenãosiora. Podecêpingadunaxícra?
- Siseor! – respondi sobre os
olhares incrédulos dos funcionários da construção ao lado que degustavam
enroladinhos de salsicha com refrigerante.
E assim foi, divertida experiência.
O café estava doce, o pão gorduroso com gosto de frango, o público uniforme, o
aroma do popular estrugido penetrando no meu cabelo, mas tudo bem ... objetivo alcançado!
Amanhã tem mais.
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