quarta-feira, 6 de março de 2013

Tenãosiora


Como já disse em outras escrituras sinto um prazer celular em tomar café da manhã na rua. É um ato repleto de benefícios: fico só por bons minutos, leio colunas do jornal impresso que não estão disponíveis nos sites de notícias, aprecio de olhos fechados cada mordida no pão fresquinho e não sinto a menor culpa, pois os filhos estão na escola, o marido trabalhando e eu, sou a dona exclusiva e temporária do meu tempo e do meu nariz!
Hoje, por exemplo, descobri fatos fantásticos: que a Nina Horta odeia tomates, parece que é trauma de infância, uma mistura de pão branco com maionese e que há pouco tentou superar a dificuldade enfeitando saladas com os tomates cerejas. Soube também que o Hélio Schwartsman faz uso de fitoterápicos e prefere-os aos homeopáticos, uma vez que possuem princípios ativos reconhecidos pela ciência. O Marcelo Coelho tem o hábito de arrancar as pelinhas ressecadas dos cantos dos dedos e tem inveja de quem prefere estourar papel bolha.  No caderno especial, a novidade foi que a Rússia é o maior credor da Venezuela na área de defesa e que o vice-presidente-canditado do falecido, além de se chamar Maduro era motorista de ônibus, aliás, meus sentimentos ao povo venezuelano.

Certamente nenhumas dessas notícias perdurarão mais do que o intervalo de uma manhã e é justamente essa razão do meu prazer. Tento arejar a massa encefálica com informações que exijam o mínimo rigor de absorção. A função é desarrumar para reorganizar, chamo isso de processo criativo. Café, palavras, tempo livre funciona como uma troca de ares cerebral!

Costumo repetir lugares a tempo de saberem meu pedido, mas um instante antes de puxarem um bate-papo. Por isso mantenho meu espírito desbravador ativo em busca de novos estabelecimentos.

O intervalo de tempo entre um compromisso e outro era maior; de jornal em punho decidi por um boteco pé de chinelo com pretensão a padaria de bairro periférico. Nada contra, mas eu curto um lugar limpinho. De cara senti aquele cheirinho azedo de toucinho com alho e cebola que, às sete da manhã, abala qualquer estômago vacilante. Diminui a inspiração e segui em frente. Radiografei o local com meu olhar biônico escondido atrás dos óculos de sol e rapidamente conclui que não encontraria o pão integral de sete grãos, tampouco a café latte desnatado com o contorno do cisne estampado na espuminha. Por teimosia decide perguntar, após a abordagem do atendente:

- Asioraqueoquê:

- Bom dia! Tem pão integral?

- Tenãosiora, só franceis.

- Tudo bem! Eu quero um pão na chapa e uma média desnatada.

- Tenãosiora. Podecêpingadunaxícra?

- Siseor! – respondi sobre os olhares incrédulos dos funcionários da construção ao lado que degustavam enroladinhos de salsicha com refrigerante.

E assim foi, divertida experiência. O café estava doce, o pão gorduroso com gosto de frango, o público uniforme, o aroma do popular estrugido penetrando no meu cabelo, mas tudo bem ... objetivo alcançado!
Amanhã tem mais.

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