terça-feira, 26 de março de 2013

Ou seja


Dia desses escutei um ragazzo comentar, com uma pitada de pedância machista, que não admira as pessoas que utilizam "ou seja" na escrita. Segundo ele, se for preciso o uso da conjunção conectiva explicativa (sim, parece que a categoria gramatical é essa ), indica que você não deu conta de passar seu recado na frase anterior, sendo assim seria melhor voltar e fazer bem feito. 
Discordo. A pequena dupla de palavrinhas, além de explicar de outro jeito o que já foi falado (para aqueles que não entenderam corretamente a idéia), funciona como um anúncio pré-catártico conclusivo. Dito de outra forma, revela ao interlocutor a ênfase do locutor. Vejamos alguns exemplos:
1.Gastei cerca de cinco minutos na edição de número X da revista Caras. Entre traições, casamentos e separações me surpreendi com uma longa reportagem iconográfica a respeito da ordem de sucessão dos tronos do velho mundo. Nas fotos das famílias de porcelana encontrei uma linda garotinha com nome de princesa do século XVIII - Marie Sophie Madelaine Helene de etc e tal - que ilustrava o texto "A próxima rainha". Por curiosidade dei uma goolgada e entendi que até pouco tempo atrás a busca por um novo monarca respeitava um esquema chamado de sucessão agnatícia. A dinastia seguia a determinação genética fálica ; as moçoilas estavam fora e os filhotes machos do rei tocavam o barco. Por alguma razão talvez estatística ou climática, nos últimos anos a nobreza diminui a produção de meninos e as garotinhas tomaram conta dos jardins dos palácios imperiais. Sem muito o que fazer, numa linda tarde de verão, os nobres decadentes marcaram um happy hour a beira do Báltico. Choppinho vai, choppinho vem se deram conta que para manter o poder em família era preciso mudar o sistema; os gorduchos que além de cerveja entornaram umas caipirinhas assinaram, sem pestanejar um guardanapo que dizia que daquela data em diante a sucessão respeitaria a primogenitura absoluta ou igualitária. Explico: a primeira cria nascida, independente de ser fálica ou super-fálica, assumiria a coroa e o cedro pink, ou seja meu caro, as mulheres estão dominando o mundo.
2. Na discussão das relações de gênero lembrei de um bate papo com um representante dos Machos Alfas, creio que também do século XVIII. A linha de raciocínio do tigrão seguia uma defesa "mulher minha não trabalha, não paga conta e não carrega peso". Sem muito rigor acadêmico, nem precisa ser professora de gramática para perceber a quantidade de erros presentes numa frase tão curtinha. Minha é pronome possessivo que quando usado da forma acima, em geral refere-se a seres inanimados, como bolsas, sapatos, bijuterias. Não paga a conta demonstra que leitura de jornal não esta entre os hobbies  do moço, que pouco sabe sobre a situação econômica do país que tem entre a maioria dos provedores financeiros dos lares brasileiros uma representante do sexo feminino. Não carrega peso indica total desconhecimento da anatomia feminina, afinal o fofo não nasceu de chocadeira e a dona fofa carregou o rebento por nove meses. Além do mais, depois que inventaram a mala de rodinha, o empacotador do Pão de Açúcar, o macaco hidráulico automático e todos os serviços de deliverys, só carrega peso o pessoal da batata que trabalha no CEAGESP, ou seja meu caro, baita comentário demodê.
3. Mas apesar do meu ímpeto feminista, somos poderosas, mas não somos auto-suficientes. Adoramos gentilezas, músicas românticas, dividir o domínio do controle remoto e a sobremesa do almoço de domingo, dormir até tarde enquanto vocês cuidam das crianças e até assistir jogo de futebol (prefiro os da Copa, é claro!), ou seja meu caro, não vivemos sem vocês!

Assinado Patricia Bader dos Santos, ou seja, Patchu.

Bj

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