Seja feita vossa vontade.
Das diversas formas de morrer, surpreende a que demora dias.
Anunciam que morreu um pedaço importante, outros ainda não.
Então esperam a comprovação contrária; se nada houver,
iniciam a prova dos nove.
Testam uma, duas, até três vezes para que não haja dúvidas.
De resto espera-se: por um milagre, por um equívoco, por uma decisão.
Tempo interminável: remontam histórias, cenários, saídas e supostos desejos.
Preocupassem com o que confere poder: cuidam dos vivos, frágeis e indefesos.
Há quem brigue por direito, quem questione os fatos, quem convença a resignação.
Há quem se culpe, se revolte, se perdoe.
Há quem prefira a solidão, outros a multidão.
Já vi gente conversar, na maioria chorar, todos se desesperar.
Tá morta? Tá viva? Por quanto tempo?
Tá ouvindo? Sentindo? Sofrendo?
E quando abrir, vai perceber? Nada?! Mesmo?!
Sim, ela queria, sempre disse: se um dia eu morrer e puder aproveitar o que for de proveito aos outros, doe.
Tudo!
Seja feita vossa vontade.
Doou um coração, um pulmão, rins e fígado, olhos, pele e osso.
Doou um monte de vida.
Amém.
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