segunda-feira, 7 de março de 2016

Chegar mais cedo em casa custou um pequeno ajuste na agenda.
Nada sério.
A funcionária, vítima do sistema público de saúde, avisou que não viria, pois tinha um exame, para verificar um problema na visão, agendado há 94 dias.
Nada urgente.
Em casa, em horário comercial, resolvi agendar alguns técnicos para reparar danos antigos.
Na seguradora de carros, aquela que oferece consertos grátis para os clientes, só poderiam registrar 3 problemas por chamado. No caso, na categoria elétrica, temos 4 problemas, assim sendo, precisaria de 2 funcionários, uma vez que liberam 1 por chamado.
Bom, se isso não chama burrice plena, não sei como chamar.
Abrimos 2 chamados para elétrica e 1 para hidráulica. Ignorei a calha, mas questionei se cuidavam de vazamento de gás - vocês devem estar pensando que minha casa está caindo aos pedaços; sim: pedacinhos - mas não: verificavam vazamento de água na pia, nos sifões, nas mangueiras, caixa d'Água, esgoto e a pqp, mas gás não.
Anotaram como sugestão de melhoria.
Pedidos agendados com toda gentileza, pediram para anotar o protocolo, confirmar celular, que hora antes da visita passariam um sms confirmando: medidas de segurança senhora.
Ah! É também avisaram que a visita e o reparo são gratuitos, mas o material necessário é por conta do cliente, tendo 10 dias corridos para providenciar. Fiquei agradecida!
A última vez que vieram, desmontaram um freezer de colecionador que tenho e pediram para comprar um motor ; 6 meses depois, sem saber onde vende um motor recauchutado, parcelei em 10 um novo nas Casas Bahia.
Oremos!
O Ari, referência para ajustes gerais do bairro, prometeu uma visita para meados de 2014. Deve ter errado o caminho, portanto resta receber a galera. De qualquer forma, implorei. Liguei queixando do risco de explosão, do fato de comermos assados, saladas e arroz japonês há semanas e ele, o Ari, prometeu passar amanhã.
Amanhã também tem o cara da Net, de longe a pior maldição. Foram 48 minutos em três ligações, berros e ofensas e um combinado final que vai custar 90 reais senhora, mas pode pagar em 2 vezes.
Ódio! Desejei o pior a cada um dos atendentes. Desejei LER, transtorno de ansiedade, burnout, carreira no telemarketing e tudo mais que meu coração amargurado foi capaz de pensar.
Já começa por aquela voz de amigão que a gravação tem; depois a mesma voz que jura que seu QI bateu recordes de recém-nascido.
Olá! Já localizei o seu telefone, anote o protocolo pelo fato de eu ter localizado o seu telefone. Quer que envie por e-mail? Digite 1. Se preferir que envie pela coruja do Harry Potter digite 2, mas se quiser que minha tia de uma passadinha aí, digite 3. Agora se quiser falar sobre a internet digite 1, se for sobre a Tv digite 2, agora se for sobre os dois ou o bicho de pé que você pegou na Bahia digite 3. Ah! Entendo.
Entende o que sua anta automatizada!?
Ultrapassado a voz do capeta travestida de arcanjo, começa a sequência de atendentes. Pra economizar nos detalhes, a última conversa precisou de mediadores de conflito. A fofa queria, praticamente, que eu subisse no poste para verificar se o pino estava no lugar correto. Expliquei do pinçamento no ciático, das vezes intermináveis que já liguei, esperei 30 segundos e reiniciei o programa, que meu desejo mais legítimo era receber a visita de um técnico senhora.
Nada adiantou, a reinstalação só poderia ser feita por telefone. Apelei. Inventei uma deficiência visual, pediu que chamasse outro morador, retruquei contando que morava só: solteira, filha única, pais falecidos, contava com a companhia de um cão guia. Insistiu num vizinho. Falei da última discussão na reunião de condomínio, do risco de despejo pelo falta de pagamento das despesas, do preconceito vivido diariamente. Pedi que lê-se em voz alta o registro da minha lamentação. Não o fez.
Contei de novo, mais detalhado. Falei da artrose que atingia as juntas, da solidão amenizada pela internet e das lentes de aumento que provocavam feridas, uma vê apoiadas no nariz. A moça começou a chorar, parecia raiva. Pediu para aguardar e transferiu a ligação.
A nova, talvez temerosa pelo histórico, encurtou dizendo que o técnico trocaria  o aparelho na manhã seguinte. Noventa reais senhora em duas vezes.
Nem pediu para anotar o protocolo. 

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