domingo, 16 de junho de 2013

A esposa e o Fofozão

Para quem enjoa com textos românticos.

Depois que tomei gosto pela escrita, cada diálogo ou cena cotidiana ganha potência de crônica.

A cena inspiradora da semana era simples: uma mulher agendando por telefone um exame médico para o marido. Obviamente que não era qualquer esposa, era A representante do modelo ideal na terra, que em tempos de modernidade inflaciona a função do lar. A santa não tem uma amiga, seu passeio predileto é acompanhar a sogra a feira, usa avental como segunda pele e acha charmoso o marido dormir de meia.

Minha cabeça perturbada já imaginou a figura preparando às 6 dela matina, um lanchinho para o roliço comer no meio do expediente, enxerguei ela separando o pijama comprido de flanela para o Fofozão não pegar friagem depois do banho, quase senti o cheiro do meio copo de leite com uma pitada de canela que ela esquenta por volta das dez da noite para aquecer o robusto e a pior de todas: imaginei a Fofolete cortando as unhas dos pezinhos de Shrek e  desencravando a micose do dedinho, depois de  lixar o solado áspero com todo carinho. Argh!

A atendente (cujo personagem é imaginário) não estava de muitos amigos. Creio que mesmo com muita insistência, não facilitou os pedidos da moça. Segue o diálogo:

Esposa – “Muito bom dia, qual o seu nome? Ou Daiane, como você está? Que bom... quem está falando é a Abigail e eu gostaria de agendar um exame para o meu marido? Claro querida, já estou com a carteirinha do convênio e o pedido de exame em mãos assinado e carimbado pelo médico, o doutor X ... ah! Não importa o nome? ... desculpa, não sei se atrapalho, mas é que meu marido é corretor de imóveis e ele anda tão ocupado, menina, que ele só poderia realizar o exame na próxima segunda as 8 da manhã, você teria esse horário? Sério, mas nem um pouco mais cedo ... porque além dele ser corretor de imóveis ele não consegue ficar tanto tempo sem comer que desce a hipoglicemia dele e ele começa a ficar tonto, coitado. Outro dia a gente foi na casa do meu cunhado que mora numa chácara ali perto do Jaçanã, eles falam que já é Mairiporã, mas não é ... é antes ali perto daquele hospital psiquiátrico , como chama? Vera Cruz, Santa Cruz, alguma coisa cruz ... e aí nós pegamos um baita trânsito e ele não tinha tomado café direito ... eu falei pra ele comer uma maçã, mas não quis, menina, teimoso ... chegou lá tomou uma cervejinha e ficou numa tonteira ... Não Daiane, meu marido não é alcoólatra, ele só tomou uma cervejinha com o irmão, o irmão eu acho que é ... ah desculpa, o horário, né?! Meio dia! E tem que fazer muito jejum? 12 horas?! Se eu fizer uma sopa de feijão com repolho e batatinha ele pode tomar antes de dormir ... gases? Não muito ... O Fofozão não peida Daine, isso é coisa de homem sujo, credo! Quando acontece é só um punzinho ... Mas ele vai poder almoçar depois? Que horas? Ah coitado ... fica tonto nesse exame, né menina?! Minha comadre teve que fazer, acho que era aquela coisa de úlcera nervosa, tantos problemas Daiane ... não tá bom, pode ser meio-dia ... quanto ele pesa? Acho que 89 ou 97, porque Daiane? 100 kilos!!! Tá bom, você pode esperar um pouquinho que eu vou ligar para ele ...”

A mesma esposa em outra ligação – “ Oie Fofozão, tudo bem? Não é rápido, rapidinho ... é que eu tô com a Daiane aqui no outro telefone, ah ... a Daiane é a moça do convênio, do exame,  uma fofa, tão simpática ... ah ... quanto você  pesa Fofoz ... não sou eu que quero saber , é a Daiane, ela falou que não passa pelo máquina se tiver mais de 100 kilos ...  mas não é o seu caso, né meu amoreco ... que problema? Parece que o problema é não passar na máquina, perái que eu vou perguntar ... ... ... Benzinho, a Daiane falou que pode entalar e aí só sai com regime. Disse que o último ficou preso quinze dias só tomando sopa de canudinho ... brincalhona essa menina ... mas quanto você pesa mesmo? 125 quilos?? Bem que eu notei seu pijama justinho ... mais eu te amo mesmo assim meu gudigudi ... a mamãe faz uma sopinha pra você gudigudi ... dá na boquinha ... perái amoreco que eu acho que a Daiane tá me chamando ...”

Esposa sem noção com a atendente – “Credo que grosseria Daiane, tô falando com o Fofozão... não, esse não é o nome dele... ele chama Astolfo, do quê? Pinto Junior. Tá rindo do que Daiane ... Daiane? Daiane? Acho que caiu a linha ...”

Tumtumtum ...






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