sexta-feira, 28 de junho de 2013

Zumbis


Não sei quanto a você, mas nos estamos convencidos de que os zumbis existem e estão invadindo a Terra. O meu primogênito - informante oficial para assuntos aleatórios - buscou na enciclopédia Mundo Estranho um teste rápido que verifica a capacidade de fuga e sobrevivência para o caso dos azedumes com meleca no nariz resolverem puxar a perna por aí. 
Os cientistas - obviamente baseados nos EUA - reconheceram publicamente a multiplicação da galera cara pálida pelo planeta e, por precaução, elegeram os lugares mais seguros do mundo para picar a mula. Para nós, povos tupiniquins, os países mais próximos para uma fuga rápida são a Argentina e a Bolívia. Pense bem! Talvez um bunker em Carapicuiba resolva o problema. 
Mas voltemos ao teste. Ele foi desenvolvido naquele esquema sim ou não. Cada pergunta comporta as duas respostas e te encaminha para a próxima etapa. Para os experts bastam dois positivos para alcançar o éden. Claro que não foi o meu caso. Dei um role pelas piores opções para, apenas nos instantes finais, quase sentindo a mão gélida do chupa cabra no meu pé, conseguir me salvar. 
Para início de conversa perguntam se existem montanhas com abrigos (casas ou fazendas) por perto. Dei uma olhada rápida e imaginei que o cume do pico do Jaguaré não seja considerado uma montanha, na verdade trata-se de uma caixa d'água gigante que a galera do morro usa como piscinão elevado. Lembrei do sítio, situado a 45 kms de casa que, sem trânsito, véspera de feriado, passeata ou garoa fina, chegamos em 40 minutos. Como eu sou otimista, respondi que sim. Não bastava. Os pesquisadores, com metodologia de Harvard, queriam saber se eu dava conta de carregar os suprimentos nas costas. Sejamos honestos, tenho dois filhos pequenos, por mais que eu separa-se um casaco, calça, tênis, iPod, iPad, revistas, livros, a coleção de Bakugan, o óculos de natação, a raquete de tênis para cada um e os suprimentos básicos, eu não daria conta de levá-los a pé até a esquina, quanto mais até São Roque! Além do que, comecei meu treino A Gordinha Preguiçosa há pouco tempo e 45 kms é coisa pra car#%*! Sendo assim, minha opção foi verificar se o carro disponível na garagem estava com o tanque cheio. Evidente que sim! Como sou uma moça disciplinada, abasteço meu automóvel todos os domingos ao entardecer, com gasolina aditivada além de verificar óleo, água e calibragem dos pneus. Exemplo! Portanto o transporte estava  garantido. Na seqüência enfrentamos trânsito, busquei atalhos, lutei com zumbis recém assumidos, fui desafiada a liderar o grupo, buscar estratégias de motivação para enfrentar a corrida contra o tempo, criar formas ninjas de driblar o desespero e a depressão que assolaria o time, enfim ... Fiz miséria para alcançar um lugar possível e estabelecer regras mínimas de sobrevivência em bando. Agradeci aos santos cada dica que eu lembrava do clássico A arte da Guerra e do mestre Freud em Psicologia das Massas. KKK!
Fui questionada a respeito da minha confiabilidade, da minha resistência física e mental, da minha criatividade! Ridículos! Mal sabem eles o que pode uma mulher moderna! Conseguimos fazer incêndio com um rímel e um blush em mãos! 
Por fim, dei conta de atravessar as longas duas páginas do teste e SOBREVIVER. Viva! Meu filho, um pouco assustado, suspirou de um profundo alívio ao perceber que eu, a super mãe, conseguiria ficar viva e garantir o mesmo para todos. Obviamente ele, de tanto realismo, foi devorado com duas respostas negativas.
Mas não, a história não acabou. Meu marido assistindo a cena, debochava  as gargalhadas com as dificuldades enfrentadas pelos mais fracos.  De súbito tomou a revista em mãos e com desdém afirmou que resolveria o problema em dois passos. Sim; para ele havia morro por perto (afinal o que são 45kms para um atleta?!) e sim; ele carregaria todos os suprimentos nas costas (afinal o cara é forte pra car#%*¥!). Tirou ondinha!
Mas como a vingança é um prato que se come frio, desafiei o exterminador a preparar uma mochila com os itens necessários propostos pela revista. Como sou precavida tenho todos em casa. 
(Longo silêncio ... cena patética ... a essa altura os zumbis já tomavam uma cervejinha para degustar o gostoso de aperitivo)
A figura não fazia a mais pálida idéia de: onde guardávamos as mochilas (e com a lancheira das crianças ele não chegaria nem na vizinha), onde ficavam as pilhas reservas, lanterna ele nunca soube que tínhamos, comidas enlatadas não é o mesmo que castanha de caju, esterilizador de água não é Rodiazol e o gran finale ... a furadeira portátil ele jurava que tinha sido proibida no plebiscito sobre o desarmamento. Cômico! 
Naquela noite, um pouco antes de dormir, percebi que ele estava cauteloso. Apagou as luzes, verificou a fechadura, se assegurou de que não haviam sinais de sangue pelo chão e acho que rezou, baixinho.   

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