sexta-feira, 5 de junho de 2015

Briguei com o atendente da padaria. Não houve feridos, infelizmente.
A cena consistiu num bate-boca de 3 frases; eu, reivindicando uma xícara maior e ele, defendendo a média.
Busquemos culpados.
Tudo começou numa daquelas conversas de virada de ano, fazendo o balanço das conquistas e das contas e concluindo que o ralo tava sem fundo (prometo que na próxima virada vou pra cama as 10 como se nada houvesse).
Na ilusão que tomar uma providência concreta mudaria o rumo do rombo orçamentário, baixamos um aplicativo de finanças domésticas no celular.
Entre um acordo de paz anual, mais diversão e menos trabalho, nos comprometemos a anotar no app todas (e todas) despesas mensais.
Assim fiz.
Janeiro foi um misto de euforia com pânico. Mês improdutivo, recebi quase nada e gastei quase tudo. Anotava, compulsivamente, cada picolé derretido na areia, alienada na esperança que fevereiro anunciava.
Ocorreu uma pequena melhora: os pacientes voltaram, novos chegaram (tomando providências de virada de ano), as aulas aumentaram e o ícone entrada ficou azul reluzente.
Ganhei estrelinhas pela dedicação.
Março e abril, de mãos dadas, revelaram a real situação dos meses cheios: chegaram os impostos, seguros e os imprevistos (cupim, vazamento, curto circuito e mudança de empregada).
Tentei ignorar o aumento vertiginoso da inflação e manter pequenos luxos: podóloga, café em padaria gourmet, ceviche boutique com as amigas e oficina de escrita criativa.
Não deu.
Maio se impôs como tormenta (e eu em bote de borracha).
Com calma, olhos e mente abertos, analisei numa marcação homem a homem, quanto e onde queimo o suor do meu trabalho.
Pasmem: com infra-estrutura (aluguel, saúde, educação, impostos, transporte e empregada)  gasto 65% do salário; com alimentação (doméstica e na rua) vão se outros 20%; mais 5% para garantir alguma dignidade no futuro (previdência) e os parcos 10% restantes para gozar de furtividades.
Entre elas está o café de todas as manhãs.
Prescindo de companhia, ainda estou de mau humor, sem muita disponibilidade para o outro, conversando com meu sonhos, os colunistas do jornal e algum romance inacabado.
Um momento tão íntimo pede espaço aconchegante e bem servido.
O chapeiro conhece a textura do queijo quente, a moça das frutas fatia a perfeição o formosa, mas o responsável pelo café, velho sovina, completa metade da xícara com espuma de leite.
Apelei, aos berros.

Eu já disse que não gosto de espuma de leite! Café com leite não é o mesmo que café com espuma de leite! Cinco reais uma mísera xícara, não pode conter espuma. Eu quero líquido de leite, entendeu!

O gerente intercedeu. Buscou pessoalmente uma caneca maior e combinou com o atendente que a minha média seria servida, a partir de hoje, naquela xícara.
Justo.
Demorei a beça na padaria, em tempo de escrever até crônica e, pela piscadela do gerente na saída, desconfio que tenha usado o mesmo aplicativo.
Oremos!

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