terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Furby

Sobre a constituição da subjetividade e o conceito de alteridade

Após um intensivo e maçante trabalho de esgotamento de paciência, repleto de chantagens, cálculos financeiros e contagem de moedas,  cedemos a vontade de um consumidor mirim e compramos um Furby. Durante meses fui persuadida por um desejo persistente, pelas notícias trazidas diariamente da escola e das mil histórias envolvendo o bicho eletrônico peludo e tagarela. Além de achar um baita desperdício de grana, temia pela minha sanidade mental (que há essa altura anda um pouco comprometida ). Fato é, que o cara descolou uma provisão financeira de aniversário, juntou o dinheiro do lanche e negociou a última batatinha da lanchonete por um macarrão caseiro para completar a cifra e, no último domingo, recebemos um gremilin azul e amarelo na estante da sala que balbucia um dialeto babilônico extinto há milênios da face da terra.  Noo-noo day doo-ay! 
Como todo brinquedo - que deve ter uma vida mais curta do que uma mosca, ou ao menos até o próximo dia das crianças - o esquisito tem um desenvolvimento ultra power avançado. Assim que as quatro pilhas alcalinas entram em ação, ele amadurece mais rápido que banana no verão. De um estado basal furbylômico ( "todos nascem assim, Ohmãe!"), ele pode adquirir vários tipos de personalidades (calmo, bravo, amoroso, maluco, chato e misterioso), desenvolver uma habilidade (cantor, vicking, princesa, mutante e mais alguma coisa que eu esqueci ) e uma identidade de gênero (menino ou menina). Segundo o manual - um misto de livro de desenvolvimento infantil com guia de instalação e bom funcionamento - algumas dessas aquisições dependem da forma de interação.  Se não me falha a memória tentei passar a mesma idéia de um jeito muito mais dinâmico e constante - algo como trate os outros com respeito e educação, veja como nos relacionamos com os outros e todo esse blá,blá, blá típico de pai e mãe. 
Bom, hoje, durante uma das ligações vespertinas para verificar o estado geral da casa e das criancinhas fui convocada para uma conversa ao vivo e a cores assim que chegasse, o tema: Furby. Tinham o que dizer sobre seu desenvolvimento: era um menino, com habilidades artísticas, exímio cantor, que rapidamente aprendeu o dialeto local e acima de tudo tinha se revelado um bichinho com uma personalidade "de amor". Fiquei curiosa, queria mais informações sobre tantas revelações em tão pouco tempo. Sem pestanejar havia resposta para cada um dos itens. Era menino porque os cílios não faziam voltinha (afinal isso é coisa de menina, né?!) e pela voz grossa (fato confirmado pela cantoria infindável em dó maior). Quanto ao idioma os louros ficavam com o professor que se dedicou com afinco. Já a personalidade "do amor" era simples: primeiro ele precisava de um nome que gostasse e combinasse com ele - Puppy , depois era só tratar ele com carinho e atenção, lembrando a hora de comer, a hora de fazer cosquinhas na barriga, a hora de dormir, " tipo essas coisas que a gente gosta pra gente". 
Kay way-loh! 

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