sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Tolerância

Na última quarta fui almoçar com duas amigas. Era meu rodízio. Vesti uma mochila e peguei carona com meu marido; optei por resolver o dia de transporte público.  Me senti em Paris. Tomei café de balcão e li jornal de papel. Primeira parada foi num hospital; fui conhecer um bebê super investido pelo desejo dos pais. Me emocionei. Veio depois da morte do irmão. Cinco estações adiante, registrei minhas digitais para ser reconhecida como cidadã de outro mundo. Resolvi por um preto e longo e demorado para observar a pressa. Perdi a minha e caminhei quarteirões até achar o que fazer. Achei ilusão de civilidade bem ao lado de um mendigo comendo seus restos. Achei minhas amigas. Estávamos com saudades; fomos impedidas pelos excessos: de trabalho e de problemas. Tomamos água, com gás e comemos alimentos, de qualidade. Tinha uma torta cremosa de cogumelos, divina. Tinha um rapaz, Felizardo?, talvez angolano?, aprendendo o trabalho de servir. Fez bem. Ah! E teve um contra o tempo de respeitar. O manobrista, gentil, que trouxe o carro da minha amiga, era o mesmo que pegou o carrão do homem robusto. O carrão também era robusto, mais do que a faixa da ciclo faixa. Na faixa vinha um ciclista. Tivemos pressa, não o suficiente para ele passar. Parou, praguejou com o manobrista, com o homem e com a gente, bateu. Chutou o carro com força e ódio e fugiu. Achei covarde e machista. Trememos um pouco, um pouco indignadas, um pouco achando que na Europa é diferente. Peguei carona, precisávamos resolver mais trabalho. O meu foi escutar a (in)satisfação. Precisei atravessar a rua; usei a faixa, de pedestre. Nem sempre funciona, parece que alguns não aprenderam o código. Aprendi na Europa, basta levantar a mão, assim pra frente, que param. Não funcionou. O moço do carro grande que não entendeu o sinal, levantou o dedo médio e apontou para mim. Eu entendi, ainda que não quisesse me fuder. Respirei fundo. Na Europa ... pensei. Agora pouco, assustada com a condição daquela gente enlameada de veneno de rico, tomei um susto. Outro?! Cravejaram balas de morte na cabeça de gente inocente. Porque sair de casa, a noite, de metrô, com 9º marcando os termômetros para ver show e tomar vinho é coisa de gente inocente. Minha mãe sempre falou: toma cuidado, pode ser perigoso. Mas não em Paris! Pra lá pode até levar os meninos; adoraram a última viagem. Talvez se confundiram com o jogo do video-game e dá pra iniciar e todos se levantarem e. Não dá. E sabe o que meu filho perguntou: ohmãe, o que significa tolerância? 

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