domingo, 16 de agosto de 2015

Dei entrada na vida amorosa aos 12 anos. De lá pra cá enfrentei 8 paixões, 5 finais voluntários, 2 impostos e 1 casamento (duradouro).
Em nome da saúde mental, estipulei períodos de entre safra. Nessas épocas, mantinha a regra fundamental ativa: distância de grandes envolvimentos. Muito beijo na boca, romances fortuitos e fugazes, embora capazes de restos saudosistas. 
Comecei a namorar numa era pré-tecnológica. De avanços tínhamos caneta Bic, cartão do Garfield e fita cassete. Renderam uma coleção de declarações em formato de bilhetes, cartas, cadernos de recordação, fotos únicas enviadas de lugares distantes: "Pra você lembrar de mim". 
Os principais amores ganharam trilha sonora; fundamental para manter os resquícios. Guardo na seleção atual, uma playlist " dias de desolamento", as vezes faz mais efeito que corrida no parque, pote de sorvete ou Rivotril (principalmente após os 40). 
Tive a sorte (e um pai bravo pra caralho) de iniciar os desfechos. Penso que faz diferença dar um pé na bunda antes de tomar ( principalmente aos 13 anos); não que tenham sido fácil. Por alguma razão desconhecida, preferia os namoros longos, desses que impõem uma intimidade dura de superar, transformando fins em sacrilégios. 
Fui de algoz a vítima, mas conservo com carinho todas as estórias. 
Tive fins mais emocionantes, recheados de suspense, choros e velas, desconfiança, caixa de presentes abandonada na porta de casa; com tentativa de volta, sem nenhuma possibilidade. 
Outros mais brandos, com aperto no peito, gole seco e a cruel certeza do nunca mais. 
Sofri, o tempo exato de enxugar a lágrima com o mesmo lenço que retoca o batom. 
Pude me despedir de todos, até dos distantes - amores difíceis. 
E pude gastar com as amigas, todas interpretações dos tons e entonações das vozes, das vírgulas dos textos, das batidas da porta do carro, que fosse para confirmar o óbvio: o amor havia acabado. 

...

O amor (de um) acaba e, se acaba, é porque tem outro forçando a entrada. 
Porque amor não pode acabar. 
Ele é responsável pelas cartas, pela poesia, pela eterna inspiração. 
Pela vida e pela morte; pelas trilhas sonoras. 
Pelos acasos e combinados. 
O amor responde pelo sol, pela contemplação e pela superação. 
O amor garante o encontro e a busca e o re-encontro. 

...

Escrevo tocada pela devastação tecnológica em relação aos términos. 
Escuto - na clínica, na universidade, nas conversas de bar - o fim do glamour do último encontro. 
Mandam mensagens criptografadas por celulares e, ato continuo, bloqueiam os pares de suas listas de contatos. 
Não pode minha gente! 
Quem não leva a paixão a cabo, passa a vida assistindo trailer. 

#pelasrelacoesaovivo

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