Dei entrada na vida amorosa aos 12 anos. De lá pra cá enfrentei 8 paixões, 5 finais voluntários, 2 impostos e 1 casamento (duradouro).
Em nome da saúde mental, estipulei períodos de entre safra. Nessas épocas, mantinha a regra fundamental ativa: distância de grandes envolvimentos. Muito beijo na boca, romances fortuitos e fugazes, embora capazes de restos saudosistas.
Comecei a namorar numa era pré-tecnológica. De avanços tínhamos caneta Bic, cartão do Garfield e fita cassete. Renderam uma coleção de declarações em formato de bilhetes, cartas, cadernos de recordação, fotos únicas enviadas de lugares distantes: "Pra você lembrar de mim".
Os principais amores ganharam trilha sonora; fundamental para manter os resquícios. Guardo na seleção atual, uma playlist " dias de desolamento", as vezes faz mais efeito que corrida no parque, pote de sorvete ou Rivotril (principalmente após os 40).
Tive a sorte (e um pai bravo pra caralho) de iniciar os desfechos. Penso que faz diferença dar um pé na bunda antes de tomar ( principalmente aos 13 anos); não que tenham sido fácil. Por alguma razão desconhecida, preferia os namoros longos, desses que impõem uma intimidade dura de superar, transformando fins em sacrilégios.
Fui de algoz a vítima, mas conservo com carinho todas as estórias.
Tive fins mais emocionantes, recheados de suspense, choros e velas, desconfiança, caixa de presentes abandonada na porta de casa; com tentativa de volta, sem nenhuma possibilidade.
Outros mais brandos, com aperto no peito, gole seco e a cruel certeza do nunca mais.
Sofri, o tempo exato de enxugar a lágrima com o mesmo lenço que retoca o batom.
Pude me despedir de todos, até dos distantes - amores difíceis.
E pude gastar com as amigas, todas interpretações dos tons e entonações das vozes, das vírgulas dos textos, das batidas da porta do carro, que fosse para confirmar o óbvio: o amor havia acabado.
...
O amor (de um) acaba e, se acaba, é porque tem outro forçando a entrada.
Porque amor não pode acabar.
Ele é responsável pelas cartas, pela poesia, pela eterna inspiração.
Pela vida e pela morte; pelas trilhas sonoras.
Pelos acasos e combinados.
O amor responde pelo sol, pela contemplação e pela superação.
O amor garante o encontro e a busca e o re-encontro.
...
Escrevo tocada pela devastação tecnológica em relação aos términos.
Escuto - na clínica, na universidade, nas conversas de bar - o fim do glamour do último encontro.
Mandam mensagens criptografadas por celulares e, ato continuo, bloqueiam os pares de suas listas de contatos.
Não pode minha gente!
Quem não leva a paixão a cabo, passa a vida assistindo trailer.
#pelasrelacoesaovivo
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