segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Cacoetes

Na última reunião interminável de metas, medições, indicadores e como salvar o Brasil que participei, gastei tempo observando as diferenças de cacoetes entre os gêneros.
Mulheres mexem no cabelo. Penteiam com a ponta dos dedos, sempre mais de duas vezes, mas nunca mais de três; fica oleoso. Põem de lado com mãos alternadas, amarram e desamarram, freneticamente, fazem coque preso no próprio cabelo, prendem com caneta e acariciam as pontas em movimentos circulares.
As vezes coçam o couro, mas disfarçam com uma ajeitada final. Algumas depositam uma mecha atrás da orelha e aproveitam para coçar. Quando decididas, jogam todo o volume para trás dos ombros e encerram com uma puxada da gola da blusa.
Algumas dispensam os que caem no chão, revelando desprezo e insatisfação. Também cutucam esmalte e canto de unha. Cutucam e olham e olham e cutucam até sangrar. Se sangra, chupam até estancar e começam tudo de novo.
Cuidam, cautelosamente, dos adornos. Anel foi feito para tirar e por e olhar. Colar para alinhar, buscando o local do fecho e colocando no eixo central da nuca. Para as de sobrancelhas grossas, vale penteada istmo distal, sempre de ambos os lados.
Um pouco mais abaixo, delineiam o traço dos olhos em busca de lápis borrado. Conferem a ponta do dedo e liquidam vestígios esfregando o indicador ao polegar. Outras buscam pequenas imperfeições e tentam elimina-las com as unhas. Disfarçam com o cabelo, a unha, a maquiagem ou com semblante de incômodo como um resquício de gripe ou um ataque de rinite.
Quando o cacoete envolve o olho, a boca se abre para manter o equilíbrio. Olham o pé, mais exatamente o sapato. Olham e flexionam as pontas dos dedos para cima e para baixo e finalizam com uma rotação ida-e-volta no tornozelo. As pernas cruzam para o lado oposto e repetem a seqüência. A cabeça permanece levemente inclinada e, de tempos em tempos, reorganizam a postura e mantém rosto ereto fixo no objeto, até a primeira mecha de cabelo sair do lugar.
Se houver caneta em mãos, se tornam malabares. Giram, coçam, cutucam e finalizam com a ponta debruçada no lábio inferior. Os óculos são menos manuseados, as vezes ajeitados pela arrebitada na ponta do nariz. Se papéis, rabiscam. Se bolsa, arrumam. Se água, tomam goles intervalados, sem fazer barulho. Já os homens ... em geral encontram uma posição e permanecem, estáticos. Pequenos movimentos foram encontrados: seguram o queixo com a polpa da mão e um ou dois dedos espalmados na bochecha dão suporte. O indicador, por vezes, escorrega sobre o lábio superior. Estacionam por ali fazendo movimentos sutis de vai e volta. Cutucam o rosto, sem preocupação em disfarçar; as vezes cheiram as pontas ou coçam o nariz precipitando o dedo no início da caverna otorrina. Ainda no rosto, retiram os óculos, esfregam a testa com vigor e apertam os olhos para depois arregala-los. Raramente mexem nos cabelos (mesmo os que os possuem), mas todos acariciam a barba, bigode, cavanhaque ou quaisquer outras possibilidades de pêlos faciais. Nas pernas, cruzam apoiando o tornozelo nos joelhos e ficam. A cada 40 minutos invertem a posição. E só. Talvez vire pesquisa. Ademais, não concluímos nem as metas, nem as medições ou tampouco os indicadores. Agendamos novo encontro para alinharmos as decisões inconsistentes; alguém ficou de mandar um email com o escopo e os prazos. Seria na primeira segunda de cada mês, dado o feriado de setembro ( dia da independência ?!?) adiamos para outubro. Quanto ao Brasil aguardo notícias da reunião prevista para hoje, cogitam reunificação as origens. Ora pois!

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