terça-feira, 7 de julho de 2015

Aos 4 anos é comum termos medo da noite. Meu mais velho tinha medo da noite. Não todas, felizmente. Quando acontecia , deitávamos no sofá iluminado pelos fiapos de luz vindos da rua e buscávamos adivinhar os sons do mesmo lugar. Era uma meditação guiada para uma criança de 4 anos. Escutávamos os cachorros abandonados, os gatunos forasteiros, o último ônibus da linha e os bêbados remanescentes. Sua cabeça cansava seus olhos de pensar e levava o medo para outros lugares. Aos 90 anos é menos comum termos medo da noite. Minha avó tem. Quase todas, infelizmente. Outro dia dormi junto dela. Estava de cabeça agitada, desconvencida do seus pensamentos; tampouco dos meus. Fiz massagem nos pés, dei gole d'água, bala de leite na madrugada, arrumei travesseiro, camisola e fralda. Nada ajudou. Lembrei do meu filho, dos sons e do aconchego que o mundo de fora trazia para o mundo de dentro. Abracei minha avó e, em tom de mantra disse: " vamos escutar os cachorros, os barulhos da noite e esperar o sono chegar". Fui agraciada por um instante de lucidez: " Vá pra puta que o pariu que eu não vou escutar cachorro nenhum! Tá achando que eu tô louca?!" Juro que funcionava com o meu filho. 😳😴

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