terça-feira, 18 de novembro de 2014

Per capita


Segundo algum site consultado através do meu iPhone 6 plus size, a renda per capita na Suíça - a soma dos salários de toda população dividido pelo número de habitantes - em 2013 bateu a casa dos cinco gordos dígitos, algo em torno de 44 mil dólares/ano. Situação de fome se comparado aos dados do por mim desconhecido campeão Liechtenstein: 141 mil dólares/ano.  Devemos considerar que algo em torno de cem mil doletas por ano muda a vida de qualquer vivente do solo terreno, seja ele um helvético nativo, seja um sortudo pelo destino que nasceu no  entroncamento do Império Sacro Romano Germânico. Obviamente, se a tela do seu eletrônico não for tão grande como a minha, você não conseguirá visualizar a tabela longínqua que separa as nações da primeira a última posição, ou seja o 226º. Lá, nos confins da lista - e do mundo - reside a galera do Congo/Libéria; dividem um naco de terra do mesmo continente e mesmo separados por 3 mil kms, a diferença entre a mísera cota de dinheiro por cabeça bate as cem unidades de dólares: enquanto a Libéria ganha 500 por ano o Congo se vira com apenas 400, qualquer coisa comparada a peanuts no velho continente. 
Bom, mas e daí? Daí que hoje, entre o trajeto de Osasco ao metro quadrado mais caro de São Paulo, deparei-me com um serviçal devidamente uniformizado  e ilustrado  com o logo e as cores do prédio em que trabalhava regando com esmero dois palmos de grama que circundavam a construção inspirada no mesmo Império Sacro Romano da linha de cima. E caso a frase tenha ficado complicada demais, refiro-me aos prédios cafonas que enfeitam o cruzamento Faria Lima/JK. 
Por instantes me senti na Suíça ... lembrei de um situação numa viagem a terra das vaquinhas chocolateiras: atravessando o largo país  de um cantão a outro, nos deparamos com um viaduto nascido em plena pista expressa de alguma rodovia. Não levava a lugar nenhum, apenas servia como uma grande lombada. Perguntado ao morador da região qual a função do elevado, nos explicou que havia uma obra na pista e para não atrapalhar a população local com um desvio, a prefeitura construiu um viaduto temporário enquanto os funcionários executavam a manutenção no andar de baixo. Pasmem! Então ele listou uma infinidade de exemplos que fariam inveja a qualquer país abaixo da 50° colocação ou algo em torno de 23 mil dólares/ano: o isolamento acústico na auto estrada, o elevador construído ao pé do morro para um único morador, a proibição da abertura das grandes redes de supermercado aos finais de semana para não comprometerem o trabalho dos pequenos comerciantes, as vagas garantidas nas creches,  a preferência por um segundo idioma oficial no ensino fundamental, as barracas de frutas espalhadas pela estrada com sistema auto atendimento, entre outros. E do 50° ao 101° lugar existe uma distância intergaláctica; passamos pelo Omã, pela colonizadora Portugal, pela turística CVC Aruba, pela caótica Argentina, pelo freeshop Panamá, pelos ciganos búlgaros e a atual referência pós moderna dona Venezuela, para enfim pousarmos no Brasil. Por aqui, país de obras, prestações e secura intermináveis, nos contentamos com a renda por cabeça em torno dos 11 mil/ano:  longe dez vezes do topo, mas distante trinta do fundo do poço. E dai pensei:   existem intervalos tão maiores do que a Libéria e o Congo, ou até mesmo do que a Suíça e esse tal Liechtenstein! Existe um intervalo gigantesco entre o moço-regador da faixa de grama e o dono do mastodonte de concreto. Eu e meu estúpido eletrônico moramos ai: 10 vezes mais perto do fim da fila do que a centena de vezes que nos separam do castelo do marajá. 
Fato é que tem muita, mas muita coisa para mudar por aqui, porque se fizermos essa conta direito  temos mais de nós batendo nós recordes do Zimbábue do que sonha nossa vã alienação.
E pra começar poderiam mudar esse discurso hipócrita de que evoluímos do pais que roubamasfaz para o pais que roubamasdacastigo. Isso não convence nem criança em idade pré-escolar; naquela fase do fui eu que fiz a arte, mas foi sem querer; idade que estamos nos havendo com a lei e seu real poder: negociamos, barganhamos com gracejos, pedimos desculpas com o bico doce de travessuras e no final ganhamos um afago na cabeça e um beijo na testa. 

Já deu,né?!

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