terça-feira, 14 de outubro de 2014

Simples assim

J. tem 6 anos. Está na escola há 4. Esse ano mudou para uma escola maior. Os pais entendem e acordam que a nova instituição tem um ensino "mais forte", necessário para o desenvolvimento e para o vestibular. O irmão de J. nasceu há 5 meses. Por conta do novo membro a família mudou de casa. O bebê, que nasceu prematuro e apresenta refluxo, dorme com os pais seguindo recomendação médica. A família conta com a ajuda de uma funcionária que se ocupava, exclusivamente, dos cuidados de J: levava ao clube, acompanhava nas tarefas extra-escolares, auxiliava na troca de roupa, servia os alimentos. Os pais trabalham em período integral, moram longe do trabalho, o que lhes rende horas de trânsito. Com a chegada do bebê a funcionária assumiu outros cuidados além de J. Segundo os pais,  J. sempre foi uma criança "inquieta, sem parada", mas apresentou intensificação dos sintomas nos últimos meses. Agitado (corre demais), impulsivo (come demais), apresenta atividade psicomotora exacerbada ( deixa os objetos caírem) , demostra dificuldade especialmente em tarefas repetitivas ( resiste aos comandos diários). Ambas famílias (avós, tios e primos) moram no interior. J. gosta muito de visitá-los; a família percebe que lá os sintomas diminuem. 

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A escola avisou a família que observou uma dificuldade de concentração de J. durante a explicação da professora. Agora que ele está crescido, precisa permanecer sentado por mais tempo, do contrário pode ter prejuízos no processo de alfabetização.

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A família levou a situação ao pediatra que orientou avaliação do neuropediatra. Demonstrou preocupação em relação aos impactos negativos na vida social, familiar e escolar. 

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Encaminhado ao neuropediatra, foi avaliado com transtorno do déficit de atenção na infância e medicado com metilfenidato duas vezes ao dia. 
Questionado das causas (não totalmente conhecidas, mas com clara base biológica)  explicou aos pais que: 1. pode haver um fator de herdabilidade, 2. estudos indicam que os genes analisados codificam os transportadores dopaminérgicos, 3. imagens de ressonância mostram hipoatividade frontal, 4. teorias antigas sugeriam a associação de corantes, conservantes e chocolates, 5. os remédios psicoestimulantes bloqueiam os receptores de catecolaminas, garantindo que a dopamina fique mais tempo da fenda sináptica elevando os níveis de atenção. 

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J. ainda tem 6 anos,  um irmão de 5 meses que exige cuidados, uma casa nova e assombrada, a escola povoada e populosa por pessoas que não lhe conhecem. J. deixou de ter exclusividade na relação com os pais e com a babá e além do mais, é exigido a se trocar, amarrar o tênis, comer sozinho com a TV desligada para não acordar o irmão e arrumar todos os brinquedos. Por via das dúvidas, também restringiram o consumo de  balas, gelatinas, salgadinhos e brigadeiro (sua paixão). E agora tem que tomar aquele remédio que lhe causa ânsia duas vezes por dia.

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De resto as coisas vão bem.

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