terça-feira, 5 de agosto de 2014

Versões do mesmo

Versões do mesmo.

Você soube que fomos assaltados? Conseguimos ver o que aconteceu pela câmera de segurança. Um homem de bicicleta usou de apoio o muro lateral e pegou minha bolsa que estava na sala. Fugiu pelo portão e levou cinquenta reais. 

Você soube que fomos assaltados? Vou contar rapidinho. Na sexta passada o meu vizinho, o Genesio, tocou a campanhia daqui de casa, acho que era umas duas, duas e pouco, eu lembro porque tinha acabado de chegar da reunião do conselho que começou as nove e só terminou mais de uma. Era só para apresentar as chapas para as eleições de outubro, mas acabou virando um debate político. O pessoal da universidade propondo novas diretrizes sem considerar a realidade da saúde do pais, e os outros se queixando da falta de recursos e aí, o Genesio, cê lembra que ele é pai da Claudinha. Você acredita que ela casou com um australiano e tá indo embora. Trancou a faculdade, tava quase acabando, mas o rapaz trabalha numa empresa de exploração marinha e precisa voltar o quanto antes para assumir uma pesquisa sobre cangurus que viviam no mar. Uma loucura, né?! Eu nunca tinha ouvido falar em cangurus marinhos? Parece que é da espécie dos ornitorrincos. Esse bicho que é meio ovíparo e meio mamífero, não é?! Eu lembro que o Carlinhos, sabe o neto de Genésio meu vizinho, então veio aqui em casa um dia desses, acho que quarta ou quinta, para pesquisar sobre ornitorrincos. A internet deles caiu e demorou dois dias para voltar e o menino tinha que entregar o trabalho. Acabei ajudando. Sei tudo sobre ornitorrinco. Ah! Aí o Genésio tocou a campanhia e disse que achou minha bolsa jogada lá no  pinheirinho, aquele que seu tio plantou quando você era pequena, lembra?! Menina, tá enorme. O pessoal da prefeitura esteve aqui para aparar de tão alto. Se caísse no telhado faria o maior estrago. A vó tava almoçando, não entendeu nada. Aliás, estou preocupada com ela; tem comido pouco, vive dormindo, as vezes faz uma confusão danada. Ela sonhou com o vô e acordou dizendo que tinha visto ele aqui no jardim. Você sabe como eu sou impressionada com essas coisas de espíritos, né?! Disse para ela que era um sonho, mas ela falou que era tão real que deu quase para sentir o cheiro dele. Mandei rezar uma missa. E aí vem o Genesio com essa história de bolsa ... fui assistir a fita da câmera de segurança. Ainda bem que tem. Se bem que ajuda e não ajuda. Agora eu sei tudo que aconteceu, mas fico com medo que aconteça de novo. Tô pensando em orçar uma cerca elétrica pro muro lateral, lá onde o cara apoio a bicicleta. Parecia um cara, mas não da para ver direito se era novo ou velho, seu tio achou um pouco familiar. Agora a gente pensa em todo mundo que entrou aqui nos últimos tempos: trocaram o telhado, instalaram o portão, pintaram a parte de fora da casa. Teve o pessoal do sofá e da calha também. Parece até preconceito, né?! Mas foi tanta gente. No começo achei que era brincadeira do Genesio. Ele é brincalhão, veio buscar jornal velho para embrulhar os potes de pimenta que o gringo vai levar para Austrália e eu achei que ele tinha de sacanagem levado a bolsa. Imagina! Quando fui ver era o ladrão. Chegou de bicicleta, entrou pelo calipal e encostou a bicicleta no cantInho do muro, bem ali onde seu tio colocou a bandeira do São Paulo. Gigante! Comprou uma maior que a do Brasil, acho que de desaforo. Ele pulou o muro e entrou na sala e pegou a bolsa que devia estar na cadeira da mesa de jantar. Bem que você fala que eu tô ficando surda, não ouvi nada. Acho que tava com a vó na sala de TV assistindo o novo Vídeo Show; até que é legal, viu?! Tem uns games com artistas de segunda categoria que são divertidos. Eu sei que não ouvi nada mesmo. Na câmera da pra ver ele correndo e fugindo de bicicleta. Fazer o que, né?! Deve ser ladrão pé de chinelo, parecia meio drogado, deu um tropicão quando fugia. Ou bêbado, sei lá. Mas também coitado, não teve muita sorte, se muito eu tinha cinquenta reais na carteira. Cê sabe que eu não ando com muito dinheiro. Nem sei se tinha tudo isso, outro dia furou o pneu do carro e eu tive que pagar o borracheiro com cartão de débito. Eu não tinha dez reais, ainda bem que ele tinha maquininha. Hoje em dia qualquer um pode pedir maquininha no banco. Você tem no consultório? ... E os meninos, tão bem? Que bom! Não quero tomar seu tempo, era só para contar do assalto. Manda um beijo para todos e depois a gente conversa com calma. Beijo 

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