sexta-feira, 2 de maio de 2014

Proporcionei ao meu primogênito uma tarde ostentação com um amigo da escola. O principal atrativo foram as cadeiras reclináveis com botão para servir pipocas. Demos uma volta no shopping, xeretamos as prateleiras da livraria européia, comemos carne moída com queijo americano e cebola frita. Durante a exibição do mais novo homem aranha, preferi uma das agradáveis praças de cafés distribuídas nos arredores da grande construção. Ele cresceu; pensei que um programa com o amigo seria mais divertido sem a presença constante da mãe; além do mais, temo desenvolver labirintite entre um salto e outro nos arranhas-céus de nova york versão 3d. Munida de um eletrônico, o livro novo e um café plus size, encontrei um lugar ao sol com vista para a arborizada marginal pinheiros. Ao meu lado estava um homem de meia idade esparramado no sofá do lounge que, entre uma apnéia e outra, acordava da sesta. Na outra mesa um casal, também de meia idade, entre gorjeios e gracejos em inglês - como são óbvios os apaixonados! Mais adiante, um grupo de jovens, mascarados de executivos, acertavam os ajustes finais da apresentação. Um funcionário descansava de olhos abertos. Duas meninas bem vestidas combinavam a saída da noite, enquanto dividiam um sorvete light. Uma mãe elegante e seus três filhos adolescentes conversavam sobre o último feriado em angra. A atendente, uma senhora loira e rosada de olhos azuis, me lembrou uma romena em algum restaurante suíço. Tinham outros e otra língua. E tinham três, iguais e chatos, tentando emplacar um papo que não decolava. Começaram pelo sorvete, arriscaram os modelos de carro, tentaram o final de semana, perguntaram da fulaninha e nada, até que um garotinho da mesa ao lado ofereceu de bandeja o assunto da vez: o álbum da copa. Falta de criatividade. Em poucos minutos falavam da estrutura precária do país, das diferenças entre dilma e barack,  do sonho em morar na big apple, do alto custo cobrado por aqui pelo seu aparelho telefônico, da ditadura imposta pelo governo ao proibi-lo de comprar um gerador de energia para sua casa, do preço da blindagem, da qualidade dos produtos nacionais, da falta de qualidade da mão de obra escrava, do próprio umbigo, do gel importado que suporta seu topete. Foram incapazes de discutir uma única idéia. Concordaram em uníssono com as queixas distribuídas, aleatoriamente, sobre a tábua de mármore artificial. Combinaram de torcer contra, embora soubessem - parece que o tio de um deles, amigo do primo do cunhado do presidente da fifa, revelou  que seremos campeões, pois os jogos estão comprados. Verificaram seus relógios e, cobertos de verdades, partiram atrasados para o capitão américa esquecendo seus pratos sujos ao ar livre. 

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