terça-feira, 18 de março de 2014

Implicância

Implico com fricassê. Pratinho afetado! 
Aqueles pedaços miúdos de frango, disfarçados de carne de primeira, submersos em molho apetitoso, fingindo simpatia. Ficam lá, de mãos dadas com as ervilhas verdinhas e suculentas com semblant europeu; dissimulados! Já vi muita carne de pescoço pagando de sobrecoxa. De peito então, nem se fala. Prefiro o bicho boi. Mais autêntico, bem definido. Filet é filet, cupim é cupim e picanha é tapa de cuadril. Não tem erro. Simpatizo também com os nadantes. Nenhum caranguejo de brejo teria coragem de desfilar com trajes de lagosta. Entendem seu valor e seu lugar na cadeia alimentar. Alguém, por acaso, já encontrou uma sardinha dormindo na lata do atum?! Então!


Implico também com o Luan Santana. Até simpatizo com a breguice do menino roliço, com calça de couro colada, cantando umas musiquinhas forçadas, daquelas que colam no ouvido e não saem nem com lavagem. Alguma coisa entre “amar não é pecado” e “ai se eu te pego” trás um colorido erótico, no meio do expediente, quando passo na recepção do prédio e escuto o pessoal da portaria cantarolando o refrão. Lembro que existe vida após um longo dia de trabalho. Mas, apesar disso, acho um pouco demais a super produção dos shows. Domingo, entre uma conversa com a vovó surda e os gritos das crianças enlouquecidas, assistíamos ao domingo do Faustão. Luan estava lá, lépido e faceiro, concorrendo a algum prêmio melhores do ano. Por alguma razão, que não ficou clara, o cenário contava com uma chuva torrencial, dessas de fim de verão que acabam até com a circulação de leptospirose na cidade. Não bastasse, a moça da maquiagem deve ter usado um pancake de segunda linha que derreteu igual as geleiras da Antártida em pleno aquecimento global. Deu dó. Enquanto ele dançava, tirando alguma inspiração do intestino delgado, seu rosto se desintegrava; e de triste (música com pegada soucornoedaí) virou um comediante do improviso. Difícil!

E sobre o superlativo? È pra implicar ou não?!Tenho uma birra de neguinho que tem mania de usar o intensificador Tabajara de qualidades. Em geral vem na carona do eu. Eu sou super, hiper, master, issimo legal! Meus penduricalhos  são mega, ultra, plus, érrimos! Empolo. E não existe antialérgico que de conta do mal. A coceira é tão intensa que é preciso sair de perto. Também tem a versão superlativa às avessas. O drama do cidadão não é mexicano - isso é coisa de telespectador de segunda categoria – a desgraça segue um estilo Praça da Independência de Kiev. Seu sofrimento não é equiparável a nenhum outro. Você chega meio cabisbaixo, desanimado porque o filho teve febre, o salário não caiu, a empregada faltou, discutiu com o marido e o sujeito entoa a marcha fúnebre com o clássico : pior eu! Ninguém merece!

Pronto falei. Você nunca implicou com ninguém?!

Pois, é! Parece que adoeci. Fui picada pelo bicho da implicância. Envolvida em coisas demais, com valores de menos. E aí, preciso de um antídoto – essa é do Luan ou do Tonico e Tinoco – que mate essa ... doença? saudades? ... o que era mesmo?

Implico quando esqueço alguma coisa ...



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