terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Le cou de la girafe est de manger étoiles


E a tromba do elefante serve para pegar pistaches sem baixar, e o rabo do macaco serve para ficar tonto de tanto dar pirueta, e a língua do gato serve para coçar a pata de trás, e as antenas da formiga servem para equilibrar as pétalas das flores.
E para que serve uma tarde livre de trabalho? Serve para tirar o sapato, e sentar no penúltimo degrau da escada, e olhar de olhos fechados para o sol, e escutar quinze vezes a mesma música. Serve para tomar um café longo e um copo de água com gás cheio de gelo, e para dividir um brigadeiro. Serve para deitar no divã, e dormir, e acordar depois da hora. Serve para demorar tempo em cada vitrine, e não comprar nada. Serve para ler todas as manchetes das revistas da banca de jornal, e para comprar um gibi velho. Serve para ler a sinopse de todos os filmes em cartaz, e para descobrir os próximos lançamentos. Serve para ir ao cinema, sempre. Serve para lavar o cabelo no salão, e pagar pela massagem extra, e pelo shampoo especial, e para fazer a sobrancelha de novo. E serve para pintar a unha da mão de verde, e a do pé de amarelo, e para tomar cappuccino mesmo se estiver calor. Serve para organizar sua coleção de bolinhas de gude, e testar todas as canetas esquecidas no canto da mesa, e para rasgar os papéis velhos. Serve para alugar uma bicicleta no parque, e dobrar a calça, e pedalar descalça, e depois deitar na grama, e olhar para o sol de olhos fechados. Serve para conversar com um estranho, e ligar para sua avó, e gastar horas descobrindo nada na internet. Serve também para nadar sozinha no clube, você e sua touca, e seu pé de pato rosa, e seus óculos feios. E, se alguém estranhar, serve para pular do trampolim desse jeito esquisito. Serve para escrever, e ler, e escutar mais quinze vezes aquela música. Pode servir para sentir saudades, para fazer lista de saudades, e para lembrar os melhores beijos de língua. E serve para sentir vontade, e imaginar, e dar risada sozinha. Se tiver em casa, serve para cortar unhas de filho, e limpar a orelha com cotonete, e fazer cafuné até dormir. Serve para contar moedas do cofre, e separar por valor, e fazer lista de compras com as moedas do cofre, e depois para guardar tudo de novo. Serve para cozinhar, e para bater bolo, e para assar uma torta na companhia da taça de vinho branco gelado. E se tiver em casa, sem filhos, serve para fazer amor, ou para fazer sexo, ou para fazer tudo junto no sofá da sala. E serve mesmo para se espreguiçar, longa e demoradamente, e sempre. Serve para tanta coisa.


    

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