terça-feira, 10 de setembro de 2013

Da série: Desencontros


Juravam amor. Na verdade juram: amor, dívidas e dúvidas. Casados há anos, talvez muitos, ou nem tantos, conviviam juntos. Conviviam as terças, sextas e sábados. As terças a partir do jornal nacional. As sextas um pouco antes das seis e não mais do que as onze, estavam cansados da semana. Aos sábados antes da manicure, no intervalo entre a corrida e o lanche no clube e após a soneca da tarde. Intercalavam os domingos entre o almoço na casa da sogra e a rodada do campeonato brasileiro. Nas férias, por determinação do juiz, conviviam uma semana a sós e uma semana com as crianças. Respeitavam as datas comemorativas, ciclos menstruais, entregas de projeto e enxaquecas. Evitavam comprometer a zona de convivência com programações individuais. Aproveitavam as festas infantis para criar atalhos. 
Mas segunda foi um dia atípico. A professora de pilates ligou desmarcando a aula, deu mau jeito nas costas, estava de repouso tomando antiinflamatórios. O presidente desmarcou a conference call com a Índia, acho que era o feriado da vaca sagrada.  Ou era da elefanta? Enfim. As crianças decidiram dormir na casa da avó, ela estava com muitas saudades. 
Optaram por programas individuais, coincidentemente decidiram pelo mesmo local: a casa. Ficaram surpresos ao se encontrarem, talvez um pouco sem graça. Riram envergonhados e mudaram os planos. Pediram pizza pro jantar e fizeram sexo. Gozaram ao mesmo tempo. Ele dormiu logo em seguida. Ela foi preparar o lanche das crianças. Ah!  Lembrou:  as crianças não estavam. Voltou e dormiu.    

Nenhum comentário:

Postar um comentário