quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Meu

Resto, restolhada, restolho. Aquilo que sobeja de maior porção. Ruínas, despojos mortais, detritos. Parte de um dividendo menor que o divisor. Restos. De tudo. De comida, de papéis, de brinquedos, de lembranças. Do remédio, do creme, do tempero, do afeto. Do pote grande de sorvete, do bloco de notas, do tonel de tinta, do rolo de fio. Ocupam espaço, deixam rastros, servem de ninho as pragas. Emboloram, umedecem, apodrecem. Mudam de cor, de tom, de cheiro. Perdem função. Ocupam o nada, o vazio, o buraco na barriga, do peito, na alma. Resto que se preze serve a transformação. O feijão vira caldo, o arroz virado, a mandioca bolinho. O shampoo vira espuma, bolha de sabão. Vira diversão. O bloco vira bilhete de namoro. A amargura vira vinagre. O amor vira lembrança, que vira saudades e só. Restos.  

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