Aprendi com meus amigos mineiros
o verdadeiro sentido da palavra resenha. Trata-se daquele encontro meio por
acaso, na mesa do café da manhã, na casa da vizinha, no clube, sempre no pós
dia de um grande evento. É uma regra que seja no dia seguinte, porque funciona
quase como quando a gente conta um sonho. Não pode ser dias depois, perde a
graça. Um sonho que se conta,
fresquinho, assim que se acorda, é um pouco vivido por quem escuta, o relato
carrega um resto de suspiro de satisfação (ou de desespero) tão bom quanto o
próprio sonho, além de garantir para o sonhador um pouquinho mais da sensação
da noite. Ultimamente temos tido boas, o que fica fácil de concluir que tivemos
bons programas. E o fígado que aguente! Casórios, viagens, aniversários ou
simplesmente a chegada da sexta-feira, tudo pede comemoração. Ontem fomos
celebrar a união oficial de mais uma dupla. A família gastou um par de meses
programando cada detalhe: o salão, a comida, os doces personalizados, os
chinelos, as flores, as músicas e até a delicadeza dos pequenos mimos no
banheiro das meninas; só esqueceram-se do roteiro da resenha que, como sempre,
esta sujeito ao improviso e a performance desengonçada dos convidados. Ninguém
gasta muito tempo falando do vestido da noiva, das gostosuras servidas, da
doçura óbvia do bem-casado; fala-se dos micos, dos tombos, dos excessos, das
cenas bizarróticas que só um bando de amigos, e algumas doses de energéticos,
poderia interpretar. Reconstruímos, no pós-encontro, detalhes inacreditáveis.
Começou com o cerimonialista, parente da noiva, que diante de tantas
recomendações para que o noivo cuida-se bem da moça, esqueceu-se de autorizar o
beijo nupcial. A galera foi ao delírio, entre palmas e assobios, puxamos o tão
esperado beijo. A mãe do noivo, figura carimbada dos dois lados e uma das mais
animadas, passou a noite abraçada a bolsa, por alguma razão que até agora não
descobrimos. O marido da mãe, costumè da minimalista dupla bermuda e chinelo,
só esperou acabar a valsa oficial para sacar a camisa engomada pra fora da
calça. Bailou como um russo, mas jura que não se lembra de nada, nem mesmo que
a festa acabou muito tarde, garante que no máximo meia noite já estava na cama.
O esposo, por diversão, vestiu um acessório de sheik árabe e permaneceu todo
tempo assim, fico imaginando o álbum. Se não tiraram algumas fotos no inicio,
vão achar que era festa a fantasia. As crianças contribuem muito para as cenas engraçadas,
sempre tem um pentelho que se posta no meio das pernas de alguma madrinha, ou
fica jogando as pétalas de rosa na cabeça da vozinha. Teve o amigo do amigo que, de gravata
na testa, decidiu performar a dança do acasalamento para namorada. O fato de
terem outras duzentas pessoas por perto não foi um problema. Um misto de ganso
com dor no ciático e uma ema com bursite, dão idéia do que foi a cena. Para
piorar, pareceu que o DJ agiu de má fé com o cidadão, porque assim que ele deu
o primeiro rodopio o cara meteu a sequência completa dos funks do Salve Jorge.
Teve a amiga que, crente da própria sobriedade, filmou boa parte do show, mas
no dia seguinte percebeu que se esqueceu de apertar o rec. E o buquê?
Injustamente pego pela convidada globeleza, a mulher de tão alta só precisou
espreguiçar os braços que as flores aterrissaram em suas mãos. Pobre da prima
quase anã que tentou, mas não conseguiu nem chegar na coxa da sambista. Os
meninos, invejosos do ritual, decidiram por jogar uma caixa, vazia, de uísque.
Cômico. Silvio Santos não faria melhor ao arremessar dinheiro para a plateia. O
papelão terminou um quebra cabeça de mil peças e todos saíram felizes. Abriram
a garrafa ali mesmo e brindaram aos noivos. Teve a entrega das havaianas, que
desde sua invenção, ganhou o posto de a mais concorrida, passando a frente dos
bem-casados. Mesmo quem não pretende usá-la na hora, se estapeia por uma. A
irmã do noivo voluntariou-se para a tarefa, coitada! As duas horas de salão de
beleza enrolando baby-liss nas madeixas foram pro saco quando ela surgiu
radiante com o cesto de vime repleto de sandalinhas. Foi pisoteada e sobrou com
um único pé 41 nas mãos. Outra cena curiosa é a quantidade de cantor/dançarino
que surge durante a noite. Eu mesma jurava, lá pela uma da madruga, que bailava
um forró como nos tempos da faculdade. Dancei com meu marido, com um amigo, com
o pai do noivo e no espelho sozinha cada vez que ia ao banheiro - muitas,
decidi pela cerveja, o que vestida de cinta modeladora, salto alto e bistidinho
de seda não é uma boa opção. Também cantei, de braços levantados me achando a
própria Ivete Sangalo em cima do trio entoando a galera. Barbaridade! Falamos
sobre a quantidade de copos que por uma questão atmosférica desabam das mãos.
Impressionante! Releitura de Newton e sua teoria da relatividade em pleno
casamento. Eu acho que deviriam considerar trocar os copos de vidros por
plástico a partir da segunda hora de festa. Ninguém lembra. Garantem que foi a
tiazinha da coxinha que esbarrou. Por sorte não teve escola de samba, senão
além de rainha do baião eu ia desbancar a globeleza do parágrafo de cima. Já no
finalzinho, luzes acesas, a última música tocando, sempre tem um desavisado que
propõe uma saideira em casa. Fechamos com chave de ouro, a pessoa mais animada
pela proposta, pasmem, foi a noiva que gritava aos brandos: "Viva, vamos
para casa do Fê!". Não deixaram. A essa altura a fila de táxis recolhia os
corpos para despejá-los cada um na sua casa, não na do Fê. Foi ótimo! Terminamos
a conversa jurando bom comportamento nas próximas semanas, mas por via das
dúvidas, marcamos uma pizza na próxima sexta para vermos a primeira prova das
fotos.
Gé e Pri sejam muito felizes!
Bj
.
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