terça-feira, 2 de abril de 2013

Plutão o planeta anão


Embora a notícia seja antiga, demorei um tempo para processá-la. Plutão não é um planeta! Pobre Plutão; rebaixado à segunda divisão igual o Paysandu. Durante quase oitenta anos acreditou ser um planeta, participou dos eventos de integração, tentou a todo custo negociar um espaço independente da força de Netuno no tal do sistema solar e nada. Num ato de covardia foi chamado de anão. E daí?! Quem esses terráqueos pensam que são?! Se acham a último mini pão de queijo da porção! Gastam uma dinheirama fazendo convenção para definir quem pode e quem não pode circular em volta da bola de fogo. Isso tá cheirando briga de meninos; quando tão em número ímpar alguém sempre fica de fora, é a lei da triangulação. Normalmente excluem as minorias: os mais gordos, os mais magros, os mais esquisitos e agora a bola da vez foram os anões. O que mais me impressiona foi a forma perversa que decidiram pela sua exclusão.

Os valentões decidiram redefinir o conceito de planeta, disseram que para entrar no clube, os aspirantes deveriam apresentar na diretoria, três provas atualizadas e registradas no conselho dos planetas que comprovassem sua condição: 1º) que rodavam a baiana em volta do sol, 2º) que fosse determinado o suficiente para manter-se redondo e 3º) que fosse forte o bastante para varrer qualquer intruso de suas proximidades. O pobrezinho se empenhou: fez coaching, arrumou um personal, pagou um curso caríssimo para aprender técnicas de defesa pessoal, comprou até um pitbull! Passou pelo vexame de ver sua foto presa, nos arredores da autarquia, a espera de algum voto contra. Foram dias terríveis!

Depois de muita luta não conseguiu provar sua força e confessou publicamente que se relacionava com estrelas menores, sem tantos anéis e cores, como dos antigos. Chegou a deprimir, quase foi medicado, os doutores disseram que o problema de Plutão era transtorno de personalidade. Decidiu conversar com uma amiga e aceitou a sugestão de procurar um analista. No começou achava aquilo uma bobagem, sabia que mal caberia no divã. De que adiantaria falar que queria ser um planeta como os outros, mas que não foi aceito?! Com o tempo foi contando outras histórias, o quanto se divertia com Caronte, o quanto de identificava com Ceres, Xena, Haumea, o prazer que sentia brincando de roda-roda e pega-pega no cinturão de asteroides. Com o tempo deixou de disputar espaço pela atenção dos outros, mesmo lidando – vez ou outra - com certo fantasma de não ser reconhecido em nenhum lugar.

Um dia recebeu uma carta, em papel timbrado e tudo, assinada pelo presidente da União Astronômica Internacional. O tal do presidente, em nome de todos os planetas, anunciava a concessão do titulo de cidadão emérito a Plutão, na condição de Planeta Anão.

Por um instante pensou no que faria, se era preciso responder a carta e concluiu que o melhor a fazer era nada fazer. Como nos tempos de criança, fez da carta uma dobradura de avião e arremessou no espaço.  

Anos luz depois, leu na manchete de um jornal, que um grupo de astrônomo identificou, orbitando pelo sistema solar, um objeto não identificado que poderia ser o nono planeta.

Sorriu.

 
 

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