Embora a notícia seja antiga,
demorei um tempo para processá-la. Plutão não é um planeta! Pobre Plutão;
rebaixado à segunda divisão igual o Paysandu. Durante quase oitenta anos
acreditou ser um planeta, participou dos eventos de integração, tentou a todo
custo negociar um espaço independente da força de Netuno no tal do sistema
solar e nada. Num ato de covardia foi chamado de anão. E daí?! Quem esses terráqueos
pensam que são?! Se acham a último mini pão de queijo da porção! Gastam uma
dinheirama fazendo convenção para definir quem pode e quem não pode circular em
volta da bola de fogo. Isso tá cheirando briga de meninos; quando tão em número
ímpar alguém sempre fica de fora, é a lei da triangulação. Normalmente excluem as
minorias: os mais gordos, os mais magros, os mais esquisitos e agora a bola da
vez foram os anões. O que mais me impressiona foi a forma perversa que
decidiram pela sua exclusão.
Os valentões decidiram redefinir
o conceito de planeta, disseram que para entrar no clube, os aspirantes
deveriam apresentar na diretoria, três provas atualizadas e registradas no
conselho dos planetas que comprovassem sua condição: 1º) que rodavam a baiana
em volta do sol, 2º) que fosse determinado o suficiente para manter-se redondo e
3º) que fosse forte o bastante para varrer qualquer intruso de suas
proximidades. O pobrezinho se empenhou: fez coaching, arrumou um personal,
pagou um curso caríssimo para aprender técnicas de defesa pessoal, comprou até
um pitbull! Passou pelo vexame de ver sua foto presa, nos arredores da
autarquia, a espera de algum voto contra. Foram dias terríveis!
Depois de muita luta não
conseguiu provar sua força e confessou publicamente que se relacionava com estrelas
menores, sem tantos anéis e cores, como dos antigos. Chegou a deprimir, quase
foi medicado, os doutores disseram que o problema de Plutão era transtorno de
personalidade. Decidiu conversar com uma amiga e aceitou a sugestão de procurar
um analista. No começou achava aquilo uma bobagem, sabia que mal caberia no
divã. De que adiantaria falar que queria ser um planeta como os outros, mas que
não foi aceito?! Com o tempo foi contando outras histórias, o quanto se
divertia com Caronte, o quanto de identificava com Ceres, Xena, Haumea, o
prazer que sentia brincando de roda-roda e pega-pega no cinturão de asteroides.
Com o tempo deixou de disputar espaço pela atenção dos outros, mesmo lidando –
vez ou outra - com certo fantasma de não ser reconhecido em nenhum lugar.
Um dia recebeu uma carta, em
papel timbrado e tudo, assinada pelo presidente da União Astronômica
Internacional. O tal do presidente, em nome de todos os planetas, anunciava a
concessão do titulo de cidadão emérito a Plutão, na condição de Planeta Anão.
Por um instante pensou no que faria,
se era preciso responder a carta e concluiu que o melhor a fazer era nada
fazer. Como nos tempos de criança, fez da carta uma dobradura de avião e
arremessou no espaço.
Anos luz depois, leu na manchete
de um jornal, que um grupo de astrônomo identificou, orbitando pelo sistema
solar, um objeto não identificado que poderia ser o nono planeta.
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