Domingo nasceu fadado a
insegurança. Ele é um cara incerto, duvidoso, nunca deixa claro sua intenção.
Tem semanas que logo cedo já mostra as caras, cheio de planos e convidados,
narcisista como ele só. As 8h já esta no parque,
depois de ter lido o jornal e seus suplementos. Corre, feito um desvairado,
paga de sarado no circuito musculação para terceira idade, se atreve até a
chamar a moça do côco gelado de querida! Cheio de energia, segue caminho para a
a ferinha do MASP, se regozija com a moeda rara de 1652, maníaco por exercer
seu colecionismo. Duas quadras a diante, gasta a quantia do supermercado da
semana em quitutes e guloseimas para o almoço gourmet com os amigos. E assim
segue, crente que terá energia para pegar um cineminha no Reserva, aquele
último lançamento iraniano, as 19h50 e claro, finalizar o dia com um café pelos
arredores.
Nem sempre é assim, um
mal súbito pode atacá-lo e a cama torna-se um ninho terminal. Passa do meio dia
e sua saturação está em 85%, digno de uma dose extra de O2. Se as pernas obedecerem conseguirá chegar ao banheiro - é necessário desprezar o
resíduo urinário, abrir a geladeira e levar para a cama o equivalente a caixa
d'água de coca-cola acompanhado de cápsulas regeneradoras. O resto de pizza da
sexta servirá de alimento e o filme iraniano dará lugar a reprise centesimal do
Picardias Estudantis. As 22h tomará uma ducha, escovará os dentes e voltará
para cama.
Domingo conta com um
agravante, ele pode vir acompanhado de fatos inesperados, quer ver:
Velório de tio-avô - o
fofo viveu durante 120 anos, era um querido até os 90, depois não
lembra mais. Decidiu, por falta de inspiração morrer no sábado a noite, para
que todos os familiares - com essa idade já conheceu 12 gerações - estejam
presentes. Por azar, o tio avô é seu, portanto a mensageira do convite mico
também será você. O marido, companheiro, repassa as notícias esportivas da
semana. O cara montou um Fort Apache no sofá, composto pelos dezoito jornais, o Esporte Espetacular gritando na sua orelha, o IPad no SportNews e duas xícaras de
Nespresso prestes a cair no veludo brocado. Fôlego tomado, convite feito, vem o
vômito da ostra: " Não gosto de velório, não me sinto bem, vá você que eu
vou almoçar com as crianças na casa da minha mãe, depois você passa lá pra
buscar a gente". Não fosse a Fluoxetina, que o seu ginecologista receitou,
o tio-avô teria que dar um cantInho no caixão.
(O diálogo que segue, só
deve acontecer se o fim do seu casamento esta na lista de compras.)
- " Eu mesma adoro
velórios! Me sinto super bem visitando pessoas em
início de estado de putrefação! Sinto um prazer necrófilo cada vez que passo na
porta de um cemitério. Durante a semana começo o jornal pelo obituário, se o
morto for interessante visto meu pretinho sex e corro pro abraço, você não
sabia!? Aliás, tamanho é o meu prazer, que aquele cheque de a milion dollars
que você me deu semana passada, não era para rematrícula das crianças, era para
comprar uma campa de mármore travertino lá no cemitério da Quarta Parada, ótima
localização, ali na esquina na Álvaro Ramos com a Tobias Barreto, tão boa que
tem vista pro Sesc Belenzinho! Quanto a sua mãe ... Eu também sinto um prazer
orgástico cada vez que tenho que subir o morro pra comer aquele bolonhesa pré
azia! Não se atreva a dizer que aquilo não é morro - é serra da Cantareira - só
se for de serial killer! A fofa se esconde entre jararacas no meio da mata
atlântica! O lugar é tão longe que é preciso usar prefixo para ligar e pagar
pedágio pra chegar. Fiquei sabendo que o Morro do Alemão cavou uma passagem secreta
que dá no terraço da sua mãe. Aliás, aquilo também não é terraço, é laje!
"
Mas se o casamento tiver
alguns anos de duração pela frente, recomendo a seguinte frase: " Claro
meu amor, assim que acabar eu te ligo e levo um docinho pro café! Te amo! "
Que venha o Domingo!
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