sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Periodicidade

Periodicidade é uma palavrinha comprida, arrogante, nasalada e normalmente quando falamos enrolamos a língua. Texto acadêmico, artigo científico, divulgação de curso de pós e gente besta costuma usar quase sempre. Ela é tão chata que só serve para marcar um intervalo de tempo entre uma coisa insuportável e sua repetição. Nas empresas ela fica disfarçada em periódico. Ninguém vai voluntariamente, sempre tem um fofo da medicina do trabalho que obriga você a fazê-lo. Quer mais? Vamos ao ginecologista, ao dentista e ao contador periodicamente; fazemos imposto de renda, revisão do carro, inspeção veicular, quando? Periodicamente. Desentupimos a calha, lavamos a caixa d'água, arrumamos armário e visitamos tia velha no interior, periodicamente. Aliás outra derivação da mesma transformada em advérbio para determinar a intensidade dos intervalos. Todo mundo boicota. Exame de rotina = 1 ano e 3 meses. Detetização = aparecimento da próxima barata. Dentista do filho = " mãe tô com dor de dente! ", Antibiótico = enquanto durarem os sintomas e assim vai.
Ninguém marca na agenda tarefas não obrigatórias. Boteco com as amigas por exemplo, guardo de cabeça, a não ser que já seja a terceira saída do mês e o marido esteja meio puto. Aí, além de marcar você inventa um motivo que normalmente é problema amoroso e grave. Não tem erro! Suporte emocional tá sempre liberado. Só tem que avisar a amiga, porque senão os maridos se encontram e descobrem o plano. Pode ser drama existencial, questões sobre a carreira, meio deprimida, tanto faz. Personal eu marco na agenda, e olha que o moço já virou figura familiar, tá contemplado no orçamento doméstico e abre até a geladeira, mas é obrigatório. As 47 festas infantis por ano, agenda. Dia de pagamento, faxina, visita técnica da Net e lavagem do aquário do beta também. Tem umas coisas mais escatológicas como necessidades fisiológicas. Só marcar intervalo quem tem constipação, senão nem lembra.
Mas tem uns programas que aparentemente não são micos, mas podem se tornar e aí tem que ter a tal da periodicidade. Feriado na praia é um, mas mais importante do que esse é a visita anual a 25 de março. As vésperas do inicio das compras de Natal, me senti na obrigação de alertar as amigas!
Requer uma baita logística: tem que ser de dia de semana, cedo, acompanhada por uma amiga, melhor se for de carro, tem que ter dinheiro trocado, coragem e determinação; lembrando que atende a aquisição de itens de primeira necessidade. Sei disso, pois na minha primeira visita ao local, eu ainda habitava o útero de mamãe. Ninguém vai a 25 pra fazer compra de mês, só ser for camelô da periferia, dono de cantina escolar ou carrinho de cachorro quente. Do contrário é pra gastar dinheiro fácil e em abundância.
Pensa bem: qual a utilidade de comprar uma máscara do Bin Laden? E uma corneta histérica? E as incontáveis lantejoulas brilhantes? E o pacote com mil canudos? Importante mesmo é o papa bolinha que não suga nem formiga morta e tem também o minúsculo batedor automático de leite para fazer espuminha. O daqui de casa deu curto circuito no primeiro uso, flambou o leite e meu dedo. Prendedor de cozinha eu devo ter uns 157, de todas as formas e tamanhos. Não funcionam, mas eu tenho.
Filhos não combinam com o local. Leve ao museu, ao vão livre do Masp, ao parque Burle Max, mas não a 25. Eu nunca levei os meninos, mas gasto uma fábula com brinquedos descartáveis de procedência e qualidade duvidosas. Canetinha hidrocolor, não funciona. Lanterna, não funciona e as pilhas podem ser recarregadas na geladeira. Tem o problema da melancia e do abacaxi. Em tempos amazônicos como os de agora, quente e úmido, aquela frutinha vistosa e refrescante chama os pequenos e dali pro PS particular mais próximo existe a Av. do Estado, enfim não levem.
Mas compre, eles adoram quantidades; os meus gostam daqueles bichinhos que crescem um milhão de vezes a mais quando ficam na água; normalmente são esquecidos depois de 72 horas e servem como ninho do mosquito da dengue. Além daqueles super-heróis de geleca que grudam na parede e escorregam parecendo bêbados em fim de festa, também são esquecidos, agora no sofá de veludo e como não são bobos nem nada, nunca mais saem de lá.
Pra finalizar, recomendo o cortador de pêlos de nariz e orelha. Comprei assim que vi, lindo, brilhante, robusto, já vinha com pilha e tem uma utilidade adicional: acabar casamento.
Cheguei em casa cheia de amor pra dar e um desejo voluntarioso por arrancar e no primeiro tufo meu marido se mudou aos berros pro quarto de hóspedes!
Tive que sair com as amigas pra um chopinho, só que dessa vez a deprimida era eu!

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