terça-feira, 8 de janeiro de 2013

O casamento do salva - vidas com a moça do colchão

O que pode acontecer quando um ex-bombeiro arruma emprego de salva-vidas de clube e uma ex-atendente do McDonalds descola uma vaga de vendedora numa loja de colchão? Tragédia, certamente! O ponto nodal na relação do casal sou eu. Omitirei a veracidade total dos fatos por precaução, mas que tá pertinho da realidade, isso tá!
Crianças de férias, casa cheia, alegre, animada, barulhenta. Pequenas modificações na rotina dão o tom da temporada: a panela de arroz teve que ser trocada por uma maior, o bombom de baby beef substituído pela carne moída, o suflê de queijo por purê de batata e a mini rúcula por escarola. Voltando as tradições compramos milho de pipoca de saco, de sobremesa temos bananas e laranjas, para acompanhar o café – de coador, é claro! – comprei um pote de pé de moleque; demora a comer que é uma beleza. As pizzas de quarta ficaram restritas a mussarela e para os paladares mais sofisticados atum com cebola e por uma questão de saúde bebemos refresco de limão com pouco açúcar; tem sobrado. Brincadeira!
O banho acontece em série, são tantos que optei pela divisão freudiana: com pipis e sem pipis. As toalhas de banho e de piscina recebo em fardos da lavanderia que atende o salão de cabeleireiro que freqüento, tive o cuidado de pedir para não embalar em sacos plásticos, do contrário teria que pagar um adicional para o pessoal do recicláveis. E com tanto calor, não vejo porque usar pijama. Economia é meu lema!
Quando as baterias dos dispositivos eletrônicos gritam por clemência, arrastamos o bando mirim para o clube. Em coro, agradecemos cada centavo gasto nas aulas de natação, os pequenos desaparecem no lago olímpico e por instantes conseguimos escutar o canto do sabiá. Dura pouco - o tempo de algum deles sair voando pelos ares - após ter estourado com os dentinhos afiados o tubarão inflável super plus size que uma mãe desvairada trouxe para o ambiente público. Eu sou mãe, creio-me democrática, prático a socialização, mas fico p* quando surgem do meio do nada com o último lançamento da China. Todas as crianças param, o salva-vidas (já falo dele) liga a música de fundo – Sigue Sigue Sputnik, aquela que tocava no filme Curtindo a Vida Adoidado quando o sujeito furta a eternizada Ferrari do pai do amigo problemático – e em uníssono gritam: Compra!!! Daí por diante convocamos a força tática da polícia para negociar com os seqüestradores a liberação do tubarão.
Depois que ele foi silenciado e virou um mosquito murcho, resta acalmar a maritaca proprietária do brinquedo, passar a sacolinha coletiva e correr pro abraço. Aposto que no dia seguinte o máximo que trarão serão os óculos de mergulho. Mas, como nem tudo são flores, nos resta o guarda. Ele inspira a confiança de uma gata no cio. Qualquer movimento mais brusco que façam, lá vem ele na direção da vítima, neutraliza com a força de uma arma de choque e reza o sermão na orelha dos responsáveis. As possibilidades são sempre trágicas: “Na escuta pai? O elemento humano estava saltando na direção da escada. Pude perceber que sua cabeça passou de raspão na borda do compartimento. Tentaram dar um grupo quando viram a nave chegando, mas a tempo consegui evitar um acidente feio, como rompimento de pescoço. Peço por gentileza que os menores infratores permaneçam na piscina rasa sob a tutela de vossa senhoria”. Em posição de continência acatamos: " Sim senhor!"
Descobrimos que se trata de um bombeiro reformado – prezo muito a categoria, mas esse senhor trabalha como se estivesse no quartel. Nos dias que esta de plantão, passamos à tarde em volta do chuveirão, que foi devidamente forrado por tapetes antiderrapante, para não corrermos risco de vida – da queda e do milico.
Vocês devem estar se perguntando onde entra a atendente. Pois bem, o colchão do quarto de hóspedes estava em estado de calamidade. Foram treze anos de casados e a criação de dois meninos (regurgitos, acidentes fisiológicos seqüenciais, chuvas torrenciais durante o período da tiração de mofo e por ai adiante). Contra a vontade do meu marido, que dizia que além de macio tinha cheirinho de bebê (azedo e estragado), decidi pela aquisição de um novo. Num breve intervalo fui a loja escolher o modelo e quem me atende ?! A fofa. A trilha fica por conta de uma voz nasalada.
“Senhora, temos o número 1 com espumas de garças ensacadas em blocos, o número 2 é de espuma da Malásia forrado com pele de paquiderme, o número três é feito de algodão do Suriname embalado pelos irmãos Franciscanos, o número 429 é ... e senhora? a senhora pode levar o combo, médio ou grande, o combo 1 tem 2 travesseiros da Nasa, o combo 2 além dos travesseiros tem uma capa protetora de fios de Himalaia e blá,blá,blá ”
Há essa altura eu tava achando o cheirinho de xixi uma fragrância dos deuses. Mas eu tinha um propósito, convidados em casa e eu cumpriria. Decisão tomada, pagamento feito, escuto o comentário magno: “ Senhora, é pra entregar ou vai retirar ?”
Nem que eu tivesse herdado a Rural Willys azul pastel do meu avô, eu conseguiria carregar um trambolho de 2 x 2 no carro! Mas como serenidade é minha meta para 2013, aumentei a oxigenação no sangue e optei pela entrega.
Bom, dia desses fui reabastecer o estoque de alimentos na distribuidora mais próxima e quem eu encontro: o coronel decadente e a funcionária do mês caminhando de mãos dadas no setor hortifruti. Já diria o poeta: duas metades da laranja.


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