sábado, 12 de janeiro de 2013

Menu do primeiro encontro

Eu sei, eu sei, tá virando um vício! Mas e daí, não é dos piores. E enquanto o estômago suportar, lá vou eu: a escrita e avante!
Hoje jantei com El Maridon e um casal de amigos queridos num restaurante pra lá de gostoso. Tentando manter a compostura, reservamos cedo com a promessa que o encontro seria comportado. Conseguimos! Cumprimos o roteiro completo: espumante + entrada, pratos harmonizados com o vinho, sobremesa dividida em 4 e o eterno cafezinho. Voltamos de táxi, mantendo a civilidade se beber não dirija. Ganhamos estrelinhas e eu, um motivo para escrever.
O local foi escolhido a dedo, os meninos, desejantes, queriam degustar uma barriga de porco a pururuca. Claro que o nome era outro, italiano e regionalizado - Pancia de Mailae. Numa ousadia um pouco menor, as meninas encararam uma massa. A minha, atrevida, veio servida com rabada desfiada na própria redução sem recomendação de polvilhar queijo. Aceitei e estava divina! A parte engraçada é que a pança do porco, mega crocante, vinha deitada sobre manta de palitos de batata doce e de acompanhamento serviram um machado e uma serra elétrica, porque o chips suíno mostrava resistência na separação da carne. O amigo, especialista em menus exóticos, deu uma paulada na pochete do bichinho causando risos em todos. Pensei: tem pratos que revelam a solidez de uma relação e esse, é um deles! Se hoje tivéssemos no primeiro encontro, temo que a relação não chegaria a sobremesa. Quer ver: quem nunca passou apuros ao escolher o prato da primeira saída? Eu já, explico.
Morava na Califórnia - intercâmbio tardio financiado pelo papai, a mamãe e as moedas recebidas em algum programa de iniciação científica da faculdade - e já tinha idade para usar salto alto e beber em público. Contra todas as recomendações familiares arrumei um namorado brasileiro - o que contribuiu e muito para o meu inglês continuar turístico funcional. Com o Plano Real estabelecido, o financiamento paterno governamental garantia que a cesta básica de uma American Language Program, fosse além do número um do Mc Donalds. Nem precisei quebrar o cofrinho, o moço, metido a elegante, me convidou para comemorarmos a primeira quinzena de namoro na terra do Tio Sam. Hayward, o vilarejo em que morávamos, não oferecia lugares tão refinados para o padrão de dois ninfetos latinos. Decidimos pela highway rumo a ponte Sao Mateo para atravessar para Baia de São Francisco, lá o universo se abria. Não lembro o nome do estabelecimento, mas como manda o figurino, tinha uma vocação franco-italiana, perfeita para alguém que tentava eliminar os quilos necessários para um início de namoro. O menu - lembrem-se do meu anafalbetismo funcional - oscilava entre uma língua recém adquirida e duas ou três palavras em um italiano ou francês mal compreendidos.
Nhoque eu conhecia, mas era gordo. Coq au vin eu também conhecia, mas era nojento. Fingindo cultura, encontrei perdido no cardápio um negócio que tinha chicken and vegetables na descrição, pensei: perfeito! O que mais poderia pedir uma menina de 21 anos em plena dieta no primeiro encontro? Peito de frango grelhado com brócolis! Pagaria de entendida e magra. Como lá , a lei seca já funcionava, ficamos na water pra não ter erro e entre um gole e um chamego de entrada, chega o garçom. Entrei em pânico!
Na diminuta bandeja de um metro de diâmetro, encontrava-se o espaguete a bolonhesa do fofo e um frango desossado king size cercado por cenouras, talos de salsão, uma couve-flor transgênica e dezoito cebolas ensopadas. Dei apagão e quando vi o peru super dotado estava há um palmo do meu pescoço. Ele de fato foi um gentleman e se ofereceu para trocar de prato comigo. Teimosa que sou, mostrei bravura e neguei. Disse que ADORAVA os cozidos americanos! Foi o jantar mais longo da minha vida! Se eu tinha alguma vocação para cirurgiã, eu liquidei naquela hora interminável que fiquei operando o galináceo em busca do tesouro perdido. Piquei, como piquei, e se não me falha a memória comi uma lasca da cenoura e, de vergonha, decidi terminar meu curso na costa leste.

Moral da história: hoje em dia devemos louvar o risotto. Amém!

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