sábado, 5 de janeiro de 2013

Dez anos

Então tá! Passei a vida escutando da minha mãe que eu fui uma garotinha petulante e ela garante, cada vez que conta as histórias da minha infância, que isso ė um elogio. Por sorte tenho uma tia, para inveja materna, que passou a vida me chamando de meu orgulho, acreditei. Tudo bem que quando eu nasci ela era uma moçoila de dezoito anos, provavelmente deslumbrada com a idade e o que mais ela pudesse oferecer, mas de qualquer forma devo ter sido um bibelô. Fato é que basta uma pequena platéia e a velha da play:
" Horas de trabalho de parto, nasceu de parto normal, sexto andar do hospital municipal, enfermaria, chorava como um bezerro desmamado, quem agüentava?! Sempre teve o nariz em pé, desde pequena sabia o que queria, lembro como hoje, ela estudava no parque, escola pública, ótima aluna, a servente do meu trabalho ia busca-lá porque eu saia um pouco mais tarde, fez que fez que passou a almoçar na cantina, merenda escolar. Na primeira reunião da primeira série, já tínhamos dinheiro para colégio de padre, a professora me chamou para falar que era ótima aluna mas não parava quieta, dizia que já tinha acabado a lição e aqueles molengas estavam demorando. Que vergonha! Mãe professora tendo que escutar aquilo! Trabalho mesmo nunca me deu, mas era teimosa, vencia pelo cansaço. Quando queria alguma coisa, ah! não sossegava enquanto não conseguia. Lembro o dia que ela começou a chorar na frente da loja do libanês, queria porque queria um pedaço de melancia. As unhas daquele homem eram nojentas! Mas tanto fez que não tive como negar, ela comeu até a casca. Que vergonha! Já apanhou e a culpa foi minha, doeu como se fosse em mim. Eu dizia, vamos Patricia, já tá na hora, mas era teimosa, enrolava só para provocar. O leite esfriando, a gente atrasado e ela lá. O pai sem paciência deu um tapa na perna, dela, que eu comecei a chorar. Tomou o nescau soluçando. Passei o dia mal. Quase nem dei aula! Ela não sabe mentir até hoje, fica com os lábios brancos, dá pra ver só de olhar no rosto. Um dia, lembro como se fosse hoje, era aniversário de dez anos. Bolinho pra família nunca faltou, sempre comemorávamos, mas aquele ano pediu pra chamar uns amigos, deixei. Nossa, doeu em mim, mas não tive outra saída. Ela chegou do colégio, eu tinha comprado uma roupa linda pra festa! Pedi pra descer na garagem pra experimentar. Não falei, não sabia mentir. Correu pro porão - a gente tinha um porão para guardar aqueles engradados de garrafas de vidro, lembra? Então, não tinha porque ir até lá, sabia que tinha alguma coisa errada. Quando fui ver tinha escondido o boletim! Sabe porquê? Vermelha! De higiene! Onde já se viu? Bater eu não sabia, né!? Mas dei um castigo. Doeu mais em mim do que nela - há essa hora aos prantos - disse que não haveria mais festa. Ela que ligasse pros amigos pra desconvidar. Claro que um bolinho teria, mas não podia fingir que não vi, né!? Cê acha que eu exagerei? "


Com uma ou outra alteração, o discurso acima esta na íntegra. Já ouvi umas mil vezes com mais ou menos lágrimas, a depender da bebida servida. Se traumatizou já virou humor, anos de análise liquidaram esses e outros traumas. Desse dia só lembro do Umberto, único infeliz que não atendeu meu telefonema dizendo que minha avó estava doente. Quando tocou a campanhia e a velhinha correu para a porta, levou uma rasteira que a levou pro hospital. Pode ser sacanagem, mas não doeu mais em mim! Conseguem imaginar o mico se o moço descobrisse a farsa! Umberto saiu de lá aos prantos depois da história trágica que eu contei sobre minha avó. Tive que esconde-lá durante um mês no porão, junto com os engradados de refrigerantes, lembram?!

Serviu de inspiração! Hoje lembrei dessa história para contar para os amigos, que com a petulância de tempos longínquos, decidi por escrever esses pequenos lampejos nesse blog - e como manda o figurino, numa página do facebook com o mesmo nome.
Peço, aos que tenham saco de ler, que divulguem. Colocarei os antigos escritos aos poucos e pretendo colocar os novos no mesmo ritmo.

Thanks pela força!

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